3.8.20

De dirigente associativo a empreendedor(a): uma oportunidade desaproveitada

Inês Alexandre, in Público on-line

O associativismo deve e pode ser uma escola de competências sociais, dentro ou fora dos contextos escolares. O desafio passa por garantir que falamos a uma só voz e que existe uma aposta neste sentido.

Na União Europeia, apenas 17% dos jovens, entre os 15 e os 35 anos, ponderam tornar-se empreendedores. Esta é uma das conclusões do relatório de 2013 Generation Entrepreneur? O Estado do Empreendedorismo Global da Juventude, que revela também que, na África Subsariana, o valor sobe para uns incríveis 60%. Mas a que se deve essa disparidade?

Um factor importante é o nível de pobreza. Nas regiões mais pobres, há muito empreendedorismo por necessidade. É onde os jovens procuram e constroem activamente essa oportunidade, porque muitas vezes constitui a melhor maneira de gerar rendimentos. Por sua vez, nos países mais ricos, a probabilidade dos jovens se envolverem em actividades empreendedoras depende, em grande parte, de existirem ou não essas oportunidades criadas e, muitas vezes, o medo do fracasso pesa mais durante a decisão.

Em Portugal, há um potencial enorme no associativismo estudantil e juvenil, na medida em que este pode ser uma rampa de lançamento para o empreendedorismo. Quando falamos em associativismo estudantil, focamo-nos muitas vezes nas associações de estudantes do ensino básico, secundário e universitário, limitando-as, quase sempre, a três tipos de eventos: a semana das campanhas eleitorais, as festas e as viagens de finalistas. Claro que existem excepções, mas este é um panorama generalizado e assumido por todos nós, das direcções das escolas aos alunos. E é esta visão que tem de mudar.

O associativismo deve e pode ser uma escola de competências sociais, dentro ou fora dos contextos escolares. O desafio passa por garantir que falamos a uma só voz e que existe uma aposta neste sentido. Podemos e devemos fazer crescer projectos que envolvam os jovens e activá-los para um processo de co-responsabilização do impacto das suas acções. Mas como é que fazemos isto?

O primeiro passo é levantarmo-nos do sofá, sairmos da zona de conforto e estarmos disponíveis para coisas novas. A etapa seguinte passa pela avaliação e monitorização, garantindo que a co-responsabilidade faz parte do nosso sistema de ensino e de um trabalho direccionado para a aquisição de competências que deixam os jovens decidir, aprender, falhar e voltar a tentar.

Fala-se pouco de falhas, mas são as falhas as maiores aliadas do processo de educação. São elas que nos vão dizer o que não fazer e de que valores não estamos dispostos a abdicar.


Depois, é necessário estruturar. Diria que estruturar e guiar são os secrets sauces desta missão. A missão de aumentarmos os projectos com e para os jovens, liderados por jovens. Quando guiamos alguém, estamos a ensinar essa pessoa para que mais tarde seja ela a ensinar a pessoa seguinte. Não existindo uma “receita milagrosa” para este processo, diria que o importante é:
Ensinar a questionar — a perguntar porquê;
Ensinar a ser crítico(a) — a ter informação necessária para dar a opinião e mostrar a sua visão;
Ensinar a estruturar, a planear — a explorar que ferramentas usar e qual o processo mais adequado;
Ensinar a trabalhar em equipa — a liderar, a perceber qual o nosso papel;
Ensinar que são as pessoas a parte mais importante de tudo — são elas que nos vão fazer pontes, são elas que vão ou não gostar de nós e recomendar-nos, são elas que vão ou não confiar e acreditar em nós;
Ensinar que todos temos de ganhar, que todos contam e que ninguém pode ficar para trás;
Ensinar que falhar é a melhor coisa que nos pode acontecer, para aprendermos.


Foi nestes sete tópicos que se focou o AEleva-te — um programa-piloto de capacitação dirigido a dirigentes associativos estudantis do ensino secundário, em Cascais —, de forma a garantir que estes aprendiam e integravam no seu dia-a-dia estes ensinamentos e que nunca se esquecessem que ninguém pode ficar para trás. Falhar faz parte do processo; o importante é o que fazemos com isso.

Estes dirigentes do associativismo são futuros empreendedores. São os nossos futuros líderes e quem vai gerar oportunidades de co-construção e de co-responsabilização, tal como nós — Transformers — e o município de Cascais fizemos com eles.