19.12.22

“As pessoas estão demasiado egoístas e é preciso sair de si mesmo e dar-se”

Cátia Cardoso, in O Regional

Dedicam parte do seu tempo aos outros e admitem que isso também os enriquece. São voluntários em instituições sanjoanenses e a propósito do Dia Internacional do Voluntariado esclarecem as razões pelas quais sentem que vale a pena investir nas causas

O Dia Internacional do Voluntariado foi instituído pela ONU em 1985, para salientar os valores de entreajuda e sentido de comunidade e promover a participação em programas de voluntariado. Em S. João da Madeira são várias as pessoas que, através de diferentes ações de voluntariado, contribuem para o desenvolvimento da cidade.

Abílio Pinho é voluntário na CERCI desde 2009. Depois de se reformar e perante a vontade de “fazer alguma coisa”, entendeu que a entidade que “merecia” a sua dedicação era a CERCI.
“Já conhecia algumas pessoas, vi que tinham algumas necessidades, achei que seria gratificante”, refere em declarações a ‘O Regional’, esclarecendo que agora faz parte da direção da instituição, “mas isso é lateral”.

Quando começou a fazer voluntariado, o seu trabalho passava pelo seu gosto na área da fotografia e da informática. “Comecei por desenvolver um clube de fotografia, tivemos um clube de informática e um clube de jornalismo também, porque era uma coisa que gostava”, conta.
Segundo Abílio Pinho, há cerca de oito voluntários na CERCI, que, de uma forma ou de outra, vão aproveitando os seus conhecimentos e competências, colocando-os ao dispor da instituição. “A CERCI desde sempre teve facilidade em receber propostas de voluntários”, informa o voluntário e dirigente, completando que “não há dificuldades” nesse sentido.
“Temos um conjunto de voluntários fantástico, neste momento estão a desenvolver uma atividade numa empresa, a fazer cabazes. Os miúdos e os voluntários estão a trabalhar na elaboração desses cabazes e não acredita a energia com que voluntários responderam ao repto”, exclama Abílio Pinho.
Recorde-se que na pandemia houve momentos em que os voluntários nem podiam ir à instituição. “Neste momento, ainda usamos máscara, é uma população muito afetiva temos que nos proteger e protege-los”, explica, frisando que algumas atividades ainda não foram retomadas, mas outras, como o teatro, já.

“Se há população que merece o nosso apoio é a população que é abrangida pela CERCI. As crianças, jovens adultos, enfim, terão outro tipo de possibilidades, as pessoas com deficiência não e é muito, muito gratificante o que fazemos com elas”, remata Abílio Pinho, indicando que ao longo destes anos tem recebido, sobretudo, “reconhecimento, gratidão e amizade dos utentes”.

Por sua vez, Ângela Quaresma faz voluntariado há mais de duas décadas. Começou na causa animal, mas também ajudou a população sem-abrigo, no Porto. Em criança, doava brinquedos antigos a quem tivesse dificuldades económicas, mostrando-se, desde cedo, “muito solidária”. Começou a fazer voluntário para “dar um pouco de esperança a quem não a tivesse”.

Atualmente provedora dos animais no município de S. João da Madeira, cargo que assume também em regime de voluntariado, Ângela Quaresma frisa que “a entrega é a mesma” e vai mais longe. “O que faço agora é a mesma coisa que já fazia, em situação de maus tratos, abandonos, parcerias, lidar com associações, não é nada de novo. Contudo, faço para além do que esta no regulamento, porque o regulamento de S. João da Madeira limita demasiado e não consigo ficar no limite, se não eu não fazia nada”, aponta.

“Sendo bem sincera, acho que é uma troca muito positiva e crescemos muito enquanto seres humanos”, responde, questionada sobre o que ganhou em fazer voluntariado, completando que, além de ter sido “sempre fui muito solidária, desde pequena” também sempre foi “muito apaixonado por animais”.
“Estamos num mundo em que as pessoas estão demasiado egoístas e é preciso sair de si mesmo e dar-se, sé assim a gente vai conseguir ser feliz”, refere, esclarecendo que o mundo “muito consumista” e que “quanto mais tem mais quer” em que vivemos já existe desde muito antes da pandemia e da Guerra.
“Ainda bem que tive pais, família, e agora marido, que aceitam esse meu modo de vida, só assim eu vou conseguindo realmente ser eu”, partilha igualmente a voluntária.

Sobre o voluntariado na causa animal, na cidade, a provedora refere que “há algumas pessoas que gostam de animais”, e também há quem não tenha tanto tempo e disponibilidade e não se envolva tanto. “Precisamos de pessoas que saibam lutar de forma equilibrada por aquilo em que acreditam, sem fundamentalismos, e pessoas que entendam da lei - para reivindicar seja o que for, precisamos estar por dentro da lei”, salienta, sublinhando que “o voluntariado é muito importante, fundamental”.
No entender de Ângela Quaresma, o trabalho das voluntárias da causa animal mostra “que há pessoas importadas com a cidade”.