19.12.22

Pobreza e desesperança


Rosália Amorim, opinião, in TSF

O fosso entre ricos e pobres tem vindo a aumentar em Portugal. A pandemia fomentou as desigualdades e a guerra na Ucrânia veio agravá-las ainda mais. 40% das famílias vão ser empurradas até ao fio da navalha em 2023 pela inflação e pelos juros, lemos ontem no Dinheiro Vivo, que todos os sábados sai com o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.

O que temos pela frente é um período desafiante. 2023 poderá ser o ano de todos os testes. Vejamos: o Banco de Portugal admite um cenário em que Euribor média será sete vezes maior em 2023 do que em 2022.

As famílias não estão claramente preparadas para isto e as mais pobres pagam mais na fatura face ao pouco rendimento que têm disponível e por estarem no limite das possibilidades.

Perante a escalada da inflação e das taxas de juro dos empréstimos (Euribor) quase metade dos lares vão estar muito perto do limite da asfixia financeira no próximo ano. Não podemos ficar indiferentes ao número em concreto: 40%!

Apesar destas famílias pobres não estarem entre os que têm maior proporção da dívida bancária (nem a conseguiriam suportar), vão sofrer mais na carteira do que aquelas que integram as classes superiores de rendimentos. Os dados são de um estudo publicado pelo Banco de Portugal, esta semana. Em cima dos juros, há ainda o efeito inflação alta, que o banco central estima em 8,1% em 2022 e 5,8% no ano que vem.

Mário Centeno, que ficou conhecido como o CR7 das Finanças quando foi ministro da pasta e é o atual Governador, lembrou e bem: o aumento de preços corrói mais os rendimentos dos lares menos abonados, na medida que estes dedicam a maior parte do seu rendimento disponível ao consumo de bens essenciais, como comida e energia. São cada vez mais aqueles que, em Portugal, não têm gastos supérfluos ou margem de manobra. Algo vai mal no reino quando em vez de desenvolvimento humano acumulamos pobreza e desesperança.