Ana Maia, in Público online
Índice de Bem-estar da população portuguesa evoluiu positivamente entre 2004 e 2020, mas pandemia teve impacto na evolução. Em 2021 parece haver sinais de estabilização.
A pandemia afectou o índice de bem-estar em 2020, especialmente na área das condições materiais de vida, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Numa escala de zero a 100, o índice não chegou a metade da tabela. Já relativamente a 2021 parece ter havido sinais de estabilização.
Segundo o relatório, publicado esta segunda-feira, “o Índice de Bem-estar (IBE) da população portuguesa evoluiu positivamente entre 2004 e 2020”. Mas a pandemia de covid-19 teve impacto nesta evolução em 2020, com o INE a estimar que “o valor de 2020 se tenha mantido em 2021”. Este índice recorre a dez índices sintéticos, que se traduzem em duas perspectivas de análise: condições materiais de vida e qualidade de vida.
“Comparando a evolução das duas grandes perspectivas do bem-estar, verifica-se que foram as condições materiais de vida que apresentaram o maior decréscimo em 2020, tendo recuperado ligeiramente em 2021, contrariamente ao que sucedeu com a perspectiva da qualidade de vida que não recuperou em 2021”, lê-se na análise. Na mesma explica-se que nem todos os indicadores apresentam valores em 2021, tendo-se realizado por isso uma projecção desses indicadores e “sendo apenas divulgado o valor dos índices de domínio”.
De acordo com o INE, na perspectiva das condições materiais de vida foram considerados três domínios de análise que agregam 26 indicadores: bem-estar económico, vulnerabilidade económica e emprego. Já para a qualidade de vida foram, considerados sete domínios de análise que agregam 45 indicadores: Saúde, balanço vida-trabalho, educação, conhecimento e competências, segurança pessoal, participação cívica e governação, relações sociais e bem-estar subjectivo, ambiente.
Assim, na área das condições materiais de vida todos os índices desceram em 2020, sendo o domínio do bem-estar económico “o que apresentou a evolução mais negativa”. Mas é também aquele que se estima mais ter recuperado no ano passado. Já o domínio da vulnerabilidade económica, outro dos indicadores usados para avaliar esta perspectiva, “foi o único domínio que não recuperou em 2021”.
Quanto à perspectiva da qualidade de vida, no primeiro ano da pandemia desceram apenas os índices dos domínios da Educação, Participação Cívica e Governação e Relações Sociais e Bem-Estar Subjectivo. “A análise da evolução, entre 2019 e 2020, por indicador permite identificar os cinco mais afectados pela pandemia de covid-19: por ordem e a grande distância dos restantes indicadores, está o índice de consumos culturais, a taxa de intensidade de pobreza, a taxa de risco de pobreza, a desigualdade na distribuição do rendimento e o índice de participação em actividades públicas.”
Os dados preliminares de 2021 “apontam para a manutenção do valor do Índice de Bem-estar do ano anterior”, refere o relatório do INE, que explica que “entre 2004 e 2020, o IBE passou de 20,9 a 45,8”. Uma evolução positiva que “resulta sobretudo dos progressos verificados nas condições materiais de vida, embora a evolução da qualidade de vida também tenha sido globalmente positiva”.
Educação e saúde
Embora as duas perspectivas tenham apresentado comportamentos distintos ao longo do tempo. Entre 2009 e 2013, as condições materiais de vida evidenciaram uma tendência decrescente e a qualidade de vida uma tendência oposta. Já entre 2013 e 2016, a evolução de ambas foi no mesmo sentido. Após 2016, a qualidade de vida manteve uma “tendência decrescente suave” e as condições materiais de vida “cresceram até 2019 e diminuíram ligeiramente a partir desse ano”.
A Educação “teve uma evolução positiva durante todos os anos do período, com excepção de um decréscimo em 2020 que se estima tenha sido totalmente recuperado em 2021”, lê-se no relatório, em que se refere que a “evolução do indicador do abandono precoce de educação e formação é a principal responsável pelo andamento positivo do índice”. Já o indicador relacionado com os consumos culturais registou uma queda a pique em 2020, mostrando pequenos sinais de recuperação.
No que respeita à saúde, alguns indicadores têm registado altos e baixos ao longo dos anos. “A esperança de vida à nascença, a avaliação positiva dos serviços de saúde, a mortalidade por doenças do aparelho circulatório e a mortalidade infantil foram os indicadores que apresentaram uma evolução mais favorável do que a do índice de domínio”, diz o INE.
Apenas quatro indicadores apresentam valores para 2021: taxa de mortalidade infantil, esperança de vida à nascença, proporção da população residente que avalia o seu estado de saúde como bom ou muito bom e proporção da população que refere limitação na realização de actividades habituais devido a um problema de saúde prolongado. A primeira mantém-se em linha com 2020, mas as restantes apresentam uma tendência de descida.
Na área das condições materiais de vida, a recuperação em marcha desde 2012 do domínio do bem-estar económico foi interrompida em 2019, “ano no qual se verificou um ligeiro decréscimo, estimando-se uma recuperação em 2021”. O INE salienta “a evolução favorável dos indicadores de desigualdade e concentração e da despesa de consumo final das famílias, que são os que tiveram o comportamento mais favorável no período [2004-2021]”. Já os indicadores relativos ao património e a remuneração mensal líquida “foram, não só os que tiveram a evolução mais contida, como também os que apresentaram durante o período valores mais baixos”.