Patrícia Viegas, in Dinheiro Vivo
Martin Schulz considera importante que países em crise, como Portugal, completem as suas reformas, mas avisa que a austeridade só por si não é suficiente para responder ao problema. "Pode ser um exercício de autodestruição se não for acompanhada de medidas pró-crescimento. É extremamente difícil cortar o défice orçamental e os níveis de dívida pública se a economia está a encolher", avisa, em declarações feitas ao DN, por e-mail, o presidente do Parlamento Europeu, que está a fazer a sua primeira visita oficial a Portugal. Para hoje, tem encontros marcados com o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, o Presidente da República, Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
Membro do SPD alemão, partido que faz oposição a Angela Merkel, Schulz considera que o pior já passou e há uma luz ao fundo do túnel, pois o euro não acabou e Portugal e a Zona Euro estão a restaurar a confiança dos mercados financeiros. Mas, adverte, ao mesmo tempo "a crise deixou claro que a integração europeia deve ser aprofundada, não podemos ter uma moeda única e depois ter 17 governos que não remam para o mesmo lado. A Zona Euro e os outros países que no futuro querem adotar a moeda devem dar passos no sentido de uma maior integração económica, criando primeiro uma união bancária e passando depois para uma união fiscal. Juntos podemos ultrapassar os problemas, mas separados estamos condenados a perder."
Questionado sobre a razão pela qual defende as eurobonds, explica que seriam "uma ferramenta poderosa para combater os especuladores financeiros". Recusando-se a especular sobre o desfecho das legislativas alemãs de setembro, o ex-autarca da Renânia do Norte-Vesrefália, que se encontra hoje também com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, alega que o sistema atual é injusto. "Alguns países pagam taxas de juro negativas pelos seus títulos de dívida [como a Alemanha]. Então, de alguma forma, eles têm beneficiado da crise, dado que os investidores estão à procura de refúgios. Ao mesmo tempo, as taxas de juro cobradas a outros países estão bem acima dos 5% para os títulos de dívida a dez anos. Com taxas de juro tão usurárias, é muito difícil conduzir políticas fiscais saudáveis. Os investidores também apreciariam uma economia de escala na oferta, um mercado de títulos de dívida europeus de alta liquidez que rivalizasse com o dos EUA: títulos de tesouro."
Schulz, que se reúne esta tarde com recém-licenciados, em Lisboa, diz ao DN que está muito preocupado com o desemprego jovem. "Arriscamo-nos a ter uma geração perdida, a menos que tenhamos um plano abrangente para a colocar no mercado de trabalho", afirma, numa altura em que a taxa de desemprego em Portugal está nos 16,3% (na Alemanha é de 6,8%). Entre os jovens portugueses, com menos de 25 anos, é de 38,7% (na Alemanha é 8,1%).
Reconhecendo que "o povo português tem feito grandes sacrifícios para colocar as suas finanças públicas em níveis sustentáveis", Schulz diz que foi mal interpretado nas declarações que fez há um ano sobre os investimentos estrangeiros em Portugal. "Não critiquei o investimento angolano. Apenas o mencionei como um exemplo de declínio da competitividade da Europa e um fenómeno que nos devia levar a uma maior integração para sermos capazes de fazer face aos desafios globais. Estava apenas a querer dizer que se os europeus não agirem juntos e se dividirem, perderemos para outras regiões do mundo, que não vão ficar à nossa espera."
Ex-livreiro, de 57 anos, Schulz planeia ainda encontrar-se com o escritor António Lobo Antunes e visitar a Associação CAIS, que apoia sem-abrigo, antes de deixar Portugal.


