in Jornal de Notícias
O presidente da República, Cavaco Silva, defendeu, este terça-feira, que é preciso "urgentemente pôr cobro" à "espiral recessiva" que Portugal vive e "concentrar esforços" no crescimento económico, senão "de pouco valerá o sacrifício" dos portugueses.
Na habitual mensagem de Ano Novo, Cavaco disse ser necessário "trabalhar para unir os portugueses e não dividi-los", porque "são muitos, e cada vez mais, os que se interrogam sobre a razão dos sacrifícios que lhes são exigidos e se esses sacrifícios serão realmente necessários e úteis".
"Precisamos de recuperar a confiança dos portugueses, não basta recuperar a confiança externa dos nossos credores (...) Os cidadãos anseiam saber se vale a pena o esforço que estão a fazer e se, no final, o país chegará a bom porto", observou o chefe de Estado.
Aníbal Cavaco Silva assinalou que em 2012 "muitas famílias foram obrigadas a reduzir as suas despesas do dia-a-dia, mesmo em bens essenciais a uma vida digna" e que "muitas pequenas e médias empresas encerraram as suas portas" e deixou alertas sobre "o coração das dificuldades" e o "problema fulcral" do país, a falta de crescimento económico.
"Temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego", advertiu o Presidente.
Cavaco considerou "essencial que todos compreendam" que as dificuldades de Portugal "derivam do nível insustentável da dívida do Estado e do país" que é preciso corrigir, através do programa de assistência financeira "negociado pelo Governo anterior" [do PS].
No entanto, sublinhou, não se pode "ignorar que em 2012 ficou claro que um processo de redução do desequilíbrio das contas públicas acompanhado de um crescimento económico negativo tende a tornar-se socialmente insustentável".
"O próprio objetivo de equilíbrio das contas públicas torna-se mais difícil de alcançar, porque a austeridade orçamental conduz à queda da produção e à obtenção de menor receita fiscal, segue-se mais austeridade para alcançar as metas do défice, o que leva a novas quedas da produção e assim sucessivamente. É um círculo vicioso que temos de interromper", afirmou.
Por outro lado, o presidente da República referiu que a economia portuguesa "tem sofrido impactos muito negativos vindos do exterior", que "estão fora do seu controlo e não foram previstos" e defendeu que Portugal deve exigir aos parceiros europeus melhores condições.
"As nossas empresas pagam pelos empréstimos taxas de juro muito superiores às suas congéneres da União Europeia. Temos argumentos, e devemos usá-los com firmeza, para exigir o apoio dos nossos parceiros europeus, de modo a conseguir um equilíbrio mais harmonioso entre o programa de consolidação orçamental e o crescimento económico", declarou.
Neste contexto, o chefe do Estado disse que é do interesse de Portugal, "mas também do interesse da União Europeia, que a coesão e a solidariedade não sejam meras palavras de circunstância".
No discurso de Ano Novo, Cavaco aponta 2013 como "um ano difícil", mas que pode ser também "um ano em que se comece a alterar a tendência negativa que se verifica na produção nacional e no emprego" e "em que o clima de confiança melhore e o investimento das empresas comece a crescer".
"Desejo que, com sentido patriótico, e a pensar acima de tudo nos portugueses, o Governo, as forças políticas e os parceiros sociais trabalhem ativamente para que, já em 2013, se inicie um ciclo de crescimento da economia. Se todos fizerem bem o que lhes compete, é possível que o crescimento seja uma realidade no ano que agora começa", disse.
O presidente da República apontou depois vários exemplos que mostram que Portugal é "um destino com grandes potencialidades" de investimento e com empresários de "espírito inovador" que "exportam aquilo que produzem e que devem ser incentivados pelas entidades públicas e apoiados pelo sistema bancário", deixando elogios à concertação social.
"Os parceiros sociais, com quem tenho dialogado frequentemente, demonstram possuir uma visão realista e moderna das relações empresariais e laborais, e estão preparados para responder às exigências dos tempos que vivemos", afirmou.