in Diário de Notícias
Os portugueses estão a optar por espécies de peixe mais baratas por causa da crise, mas a diferença de sabor e a falta de tempo para descobrir novas formas de cozinhar podem baixar o consumo, alertam especialistas.
Com base em dados da distribuição e de empresas que seguem regularmente o consumo, referentes ao ano passado, o diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça, disse à agência Lusa que se notou "uma substituição nas categorias do peixe, ou seja, as pessoas querem continuar a consumir pescado, mas estão a optar por espécies mais baratas".
Pedro Graça falava a propósito da III Conferência benefícios do Omega3, que hoje se realiza em Lisboa, organizada pela Fileira do Pescado e que analisa os hábitos alimentares dos portugueses e a sua reação às dificuldades económicas.
Manuel Tarré, da Fileira do Pescado, concorda com a análise do especialista e em declarações à Lusa afirmou que se nota "a procura de produtos mais baratos" e a redução do consumo de peixe fresco nalgumas zonas do país.
Mas, realçou, "as alternativas de [peixes] congelados têm mantido os preços".
"O peixe está de tal forma nos hábitos alimentares portugueses que as transferências fazem-se naturalmente, em alguns momentos, para produtos mais baratos, pelo seu tamanho ou pela espécie", explicou Manuel Tarré, acrescentando que "há um desvio entre 10 e 15%".
Nas perspetiva dos especialistas em nutrição, "não há problemas de maior em que as pessoas variem esses consumos e procurem espécies mais baratas, desde que continuem a consumir regularmente pescado".
A questão levantada por Pedro Graça é "se essas variações de espécies e de procura induzem as pessoas a consumir menos porque são espécies para as quais o sabor ainda não está preparado, [trata-se de um] tipo de peixe com mais dificuldade de preparação ou peixe mais pequeno, com mais espinhas, e isso pode levar a que alguns consumidores, nomeadamente os mais jovens, tenham menos apetência para este alimento".
Assim, a preocupação é "até que ponto estas variações do estatuto económico das pessoas e a crise pode levar a que exista menos tempo para cozinhar" levando os portugueses a optar pelo que é mais fácil, um comportamento que "pode afastar as pessoas do consumo de pescado".
E esse comportamento seria "uma pena", realçou o diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, sublinhandoo os benefícios nutricionais do consumo de peixe para a saúde.
Os nutricionistas e o próprio Programa sugerem até que o tipo de espécies consumidas seja diverso, pois o peixe, apesar de ter características nutricionais semelhantes, tem pequenas diferenças, como aquelas relativas ao teor de gordura ou tipo de vitaminas e a variação "é importante para o equilíbrio nutricional", apontou Pedro Graça.
O especialista é um dos participantes na Conferência, que pretende alertar para a importância de consumir pescado, defendendo ser possível uma alimentação equilibrada a custos controlados.
Segundo Manuel Tarré, o consumo de pescado em Portugal atinge cerca de 600 mil toneladas anuais e o país ocupa o terceiro lugar no mundo em termos de consumo de peixe per capita, depois do Japão e da Islândia.
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