in Jornal de Notícias
O ex-presidente do BCP Filipe Pinhal, que lidera o movimento dos reformados indignados, defendeu que a Contribuição Extraordinária de Solidariedade é "injusta" e deverá estar a servir para pagar juros da dívida pública e não para ajudar os mais pobres.
"Isso é um escrutínio que não está feito e alguém poderia fazer. Solidariedade significa que os mais ricos ajudam os mais pobres e a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) provavelmente está a servir para pagar juros da dívida pública e não para pagar as pensões mais baixas", disse o ex-gestor do BCP durante uma conferência de imprensa de apresentação do Movimento dos Reformados Indignados (MRI), que conta atualmente com cerca de 70 signatários.
Em causa está a introdução este ano da CES, estipulada entre os 3,5% e os 10%, sobre as pensões superiores a 1350 euros.
A apresentação deste movimento ficou marcada pela intervenção de um bancário reformado que se deslocou ao local para manifestar o desagrado em relação ao MRI.
"Vocês não prestam. Estão aqui a fazer-se de coitadinhos, mas têm reformas milionárias. É uma fantochada. Há pessoas que recebem 300 euros de reforma, há crianças que não comem", protestou Fernando Loureiro, ex funcionário do BCP.
Após o incidente, escusando-se sempre a divulgar o valor atual da sua pensão, Filipe Pinhal disse não perceber a indignação, referindo que este movimento, que abrange um grupo plural de reformados, muitos deles com pensões abaixo dos 1350 euros, deve ter o "direito à palavra".
"Cada um sente os problemas como sente e reage em função disso", disse o ex-gestor, referindo que o MRI começou por se juntar "num movimento de amigos" para formalizar uma queixa ao Provedor de Justiça em relação à introdução da CES no Orçamento do Estado para 2013 e que tem vindo a crescer desde então.
"Trata-se de um movimento de cidadãos, discreto e tranquilo, falamos em nome de uma causa: a oposição a uma medida que é injusta, ilegal e inconstitucional", disse ainda Pinhal, sublinhando que concordaria mais com uma medida que tributasse a riqueza e não os rendimentos.
Para Afonso Diz, do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários, também presente na conferência de imprensa, é preciso defender os direitos das pessoas que descontaram toda a vida "a contar com determinados rendimentos e que agora não podem contar com eles".
"Estas pessoas têm de se organizar, levantar os braços e dizer ao Governo basta!", disse.
"Quando os políticos não conseguem ser competentes não é aos pobres dos reformados que podem deitar as mãos. Por favor, não metam as mãos nas carteiras dos reformados", acrescentou, referindo que os bancários estão a ser os mais prejudicados, apesar de terem financiado as suas reformas "no momento próprio".
"Os governos delapidam o património público e são os bancários que são espoliados das suas reformas", acusou.
"Não acreditamos que a CES venha a acrescentar grande coisa aos rendimentos do Governo. Não é por aqui que o Governo pode salvar as contas da Nação", insistiu.