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Desemprego, pobreza, emigração, envelhecimento e paz social são algumas das palavras que marcam 2013 para os dirigentes do sector social, segundo os quais Portugal vive num quadro de extrema dificuldade, com as instituições a funcionarem como almofada social.
Na visão de Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, o ano de 2013 ficou "muito marcado" pela pressão sobre a população portuguesa por causa da austeridade e da determinação do Governo em cumprir o seu desígnio: "vencer o défice".
Para o padre Lino Maia, que dirige a Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS), 2013 revelou-se um ano "extremamente difícil": todos os portugueses estão mais pobres e ainda não foi possível "encontrar uma luz ao fundo do túnel".
Aponta o desemprego como o "principal problema", mas destaca igualmente o ataque que tem sido feito ao Estado Social, defendendo que se o Estado deixar de ser social, "então não tem razão de ser".
"Quando nós pomos em causa direitos sociais e o envolvimento de todos nos problemas de cada um, então estamos a caminhar no mau sentido", alerta.
Em consequência destes dois problemas, surge a pobreza, com o padre Lino Maia a sublinhar que é cada vez mais a única herança de muitas pessoas, quem têm cada vez menos possibilidade de fugir a "esse estigma herdado".
Eugénio Fonseca não tem dúvidas em afirmar que no decorrer deste ano houve um "aumento considerável" da pobreza, lembrando que, a par do desemprego, vieram os cortes nas prestações sociais.
Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), diz que o trabalho das misericórdias foi feito em 2013 "num quadro de extrema dificuldade", garantindo que continua a haver pessoas que recorrem às cantinas, famílias com "enorme dificuldade" em pagar as comparticipações ou a abandonar "os seus idosos e os seus deficientes".
Eugénio Fonseca, por outro lado, lembra os elevados índices de emigração que se registaram durante este ano, sublinhando que as pessoas que estão agora a abandonar o país "são necessárias à superação destes tempos difíceis", já que se está perante uma emigração qualificada.
Lino Maia diz mesmo que tem sido a emigração a baixar os valores do desemprego, uma vez que as pessoas que deixam o país deixam de fazer parte das listas dos centros de emprego.
Para Manuel Lemos, a par do problema da emigração, Portugal tem-se visto a braços com o envelhecimento da população, um problema agravado com a quebra nos nascimentos.
Já o presidente da União das Mutualidades Portuguesas (UM) não tem dúvidas em afirmar que o sector social tem cada vez mais importância para o país e caracteriza-o como "a grande obreira".
"Acredito muito sinceramente que se as entidades da economia social não estivessem no terreno, se calhar a agitação social seria muito maior e muito mais grave", entende Luís Alberto de Sá e Silva.
Opinião partilhada pelo líder da CNIS, para quem o sector social tem sido o "grande responsável" por alguma da paz no país, e por Manuel Lemos, para quem as misericórdias e as restantes instituições é que "têm sido capazes de manter a paz social" e têm sido a "grande almofada" para aguentar a crise.
A elaboração da Lei de Bases da Economia Social foi, para o setor, um dos pontos altos do ano, mas o dirigente da UM mantém o pedido aos governantes para que "tomem as melhores decisões".
Em jeito de pedido para 2014, Luís Alberto de Sá e Silva defende que o país precisa de criar mais emprego, mais riqueza e mais felicidade, Lino Maia pede uma aposta clara na revitalização da economia e Manuel Lemos e Eugénio Fonseca querem que a reforma do Estado avance.
Lusa/SOL