Maria Lopes, in Público on-line
Líder do Chega quer apresentar no Parlamento uma proposta de toda a direita para maior policiamento e formação para ciganos e um levantamento urgente das comunidades existentes em Portugal.
André Ventura escreveu aos presidentes do PSD, do CDS e da Iniciativa Liberal pedindo-lhes apoio para uma iniciativa legislativa que inclua a criação de um “plano específico para as comunidades ciganas em matéria de saúde e segurança durante a pandemia de covid-19” e também para um “levantamento urgente” (hoje inexistente) sobre a “composição, quantificação e localização das comunidades ciganas em Portugal”.
Para Rui Rio seguiu uma carta personalizada, e para o centrista Francisco Rodrigues dos Santos e o liberal João Cotrim Figueiredo foram outras duas missivas iguais em que o líder do Chega explica os seus argumentos e lhes pede apoio para a redacção de “obrigações legais” do diploma. A ideia é apresentar uma “proposta comum” que seja apresentada “por toda a direita parlamentar relativamente à comunidade cigana”. Não há indicação de prazos, mas nitidamente é para o curto prazo, uma vez que o plano é para aplicar ainda durante a pandemia e o levantamento da caracterização da comunidade é para ser feito no segundo semestre deste ano, avança Ventura.
Esse plano, descreve o deputado, envolverá “mais policiamento junto das zonas de residência dessas comunidades, maior investimento em acções de formação e sensibilização e regras de confinamento específicas”, caso haja absoluta recusa em realizar os testes que se verifiquem necessários.
“Penso que concordará que as comunidades ciganas – ou melhor, o seu comportamento e atitudes específicas -, não caindo em generalizações de qualquer tipo, representam hoje um forte problema de segurança e saúde pública nalgumas regiões do país”, diz Ventura a Rio. Nas três cartas recorda os casos de “incumprimento das normas sanitárias por parte de elementos ou de comunidades inteiras, recusa de testagem e altercações de ordem pública”.
A base argumentativa para a iniciativa é parecida nas missivas, ainda que, na carta a Rui Rio, o deputado do Chega, que foi vereador em Loures pelo PSD, aproveite para tecer elogios à “firmeza política” do presidente do seu antigo partido pela gestão no Porto e pelo processo eleitoral interno – e também deixe algumas críticas pelo seu apoio a António Costa nesta época de pandemia. “Compreendo a sua postura de colaboração numa altura em que o Governo tem de tomar medidas difíceis que protejam a vida, a saúde e a economia portuguesa. Discordo, no entanto, de haver qualquer coisa de antipatriótico nos discursos de oposição”, justifica-se Ventura, que admite ter diferenças “fundamentais em termos de pensamento político”.
“As sondagens revelam que o PSD e o Chega são, neste momento, os líderes da direita política em Portugal. Nos nossos partidos, os portugueses confiam uma oposição séria e credível, mas também projectos alternativos (se necessário disruptivos) que revelem uma visão diferente do país e do mundo”, realça André Ventura a Rui Rio. E aproveita para tentar derrubar já uma eventual oposição de princípio: “Sei, porque o vivi na pele, a oposição que existe dentro do PSD a tratar da ‘questão cigana’ de forma frontal, directa e objectiva”, recorda o deputado, admitindo que a proposta pode ser “muito controversa e politicamente incorrecta”. E antecipa já que a “extrema-esquerda vai recorrer a todo o tipo de armas e discurso brejeiro e estereotipado para invalidar” o projecto.