Por Alexandra Campos, in Público on-line
Os portugueses estão a ir cada vez menos aos serviços de urgência hospitalares e aos centros de saúde. A quebra é acentuada: nos primeiros cinco meses deste ano, face ao mesmo período de 2011, houve menos 283 mil urgências nos hospitais públicos, menos 400 mil idas aos serviços de atendimento permanente (SAP) e menos 562 mil consultas presenciais nos centros de saúde.
Em simultâneo, verificou-se uma redução das sessões de hospital de dia, da ordem dos 6,5% (menos 34 mil), indicam os últimos dados da monitorização da actividade assistencial ontem divulgados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
Em contrapartida, as consultas hospitalares aumentaram 2,2% (mais 106 mil) e as cirurgias recuperaram para os mesmos níveis do ano passado, depois de nos primeiros quatro meses deste ano terem diminuído substancialmente. Nos centros de saúde, houve também um aumento assinalável das consultas não presenciais (por telefone, e-mail), mais 298 mil, e das consultas domiciliárias, mas esta evolução não foi suficiente para compensar a quebra das consultas não presenciais e a enorme diminuição dos atendimentos em SAP (as "urgências" dos centros de saúde), que decorrem do fecho gradual de muitos destes serviços. Mas para onde foram, então, os cidadãos que habitualmente recorriam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS)?
"Não sei", responde o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, que frisa apenas que os dados indicam de forma "inequívoca" que há uma "quebra da actividade assistencial" no SNS, um fenómeno que deve ser analisado em profundidade, por exemplo fazendo-se uma "auditoria", sugere. "É difícil interpretar os números em bruto sem se poder fazer uma análise mais detalhada", defende, frisando que há dados que, à partida, lhe parecem "um contrasenso", como o aumento das consultas nos hospitais e a redução das consultas nos centros de saúde. "Devia estar a haver uma aposta nos cuidados de saúde primários", diz.
No documento com a síntese da monitorização, a ACSS congratula-se com a diminuição da procura das urgências hospitalares: "A evolução da actividade (...) está em linha de conta com o esperado, registando-se uma desejável moderação do acesso". Quanto à diminuição das consultas presenciais nos centros de saúde, o documento destaca que houve uma "transferência para as consultas médicas não presenciais". Uma explicação que não sossega o bastonário da OM, para quem os contactos telefónicos não constituem verdadeiras consultas médicas. José Manuel Silva gostaria também de ter mais dados sobre as cirurgias porque o aumento agora assinalado terá ocorrido graças sobretudo ao crescimento das operações em ambulatório (sem internamento), as mais simples. "Pode ter havido um aumento das cirurgias menos complexas e uma redução das mais complexas", especula.