31.7.12

42% dos portugueses dizem não ter dinheiro para cuidados de saúde

Por Romana Borja-Santos, in Público on-line

Mesmo estabelecendo prioridades, 41,8% dos portugueses admitem que o orçamento familiar já não é suficiente para pagar todas as despesas de saúde que seriam necessárias. Ainda assim, acima da preocupação com o preço das taxas moderadoras ou dos medicamentos está a qualidade dos cuidados prestados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), segundo um estudo de opinião sobre a saúde em Portugal.

O estudo – feito pela Cegedim em parceria com a Netsonda – decorreu entre 2 e 10 de Maio de 2012 e recorreu ao painel online da Netsonda, constituído por mais de 100 mil participantes, registados voluntariamente desde o ano 2000. A convocatória foi aleatória dentro do painel e a amostra para o estudo foi definida como indivíduos de ambos os sexos com 18 ou mais anos de idade, de todo o território nacional tendo sido realizadas 1051 entrevistas validadas, o que corresponde a uma margem de erro de 3% para um intervalo de confiança de 95%.

As conclusões do relatório mostram que a maioria dos inquiridos (65,5%) ainda recorre ao SNS, seguindo-se os seguros privados (22,5%) e a ADSE (22,1%). Mas o grande peso da utilização dos serviços públicos não parece estar a ser suficiente para cobrir as despesas de saúde, com 35,8% dos inquiridos a admitir que, nos últimos seis meses, deixaram de comprar medicamentos prescritos pelo médico por motivos financeiros. Aliás, dentro da OCDE, Portugal já está entre os países onde a despesa privada mais pesa na saúde e onde a despesa com medicamentos tem maior proporção.

À questão relativa às maiores preocupações em relação à saúde, numa escala de zero a dez, os inquiridos deram 8,72 pontos ao "receio de perde de qualidade no SNS"; 8,2 pontos ao preço dos medicamentos; 7,9 ao preço das taxas moderadoras e das consultas no sector privado e 4,83 ao faltar ao trabalho para ir a consultas. Por isso, quando confrontados com as áreas onde cortariam para poder manter o investimento na saúde, as obras públicas e a defesa foram os sectores escolhidos, por oposição à educação e à segurança social.

Já numa escala de zero a 20, no que diz respeito à confiança nos profissionais de saúde e instituições, os enfermeiros foram os que recolheram mais pontos (14,13), seguidos dos farmacêuticos (13,76) e dos médicos (13,57). Menos credibilidade têm os centros de saúde (10,61), os laboratórios farmacêuticos (10,54) e o sector social (9,64).

No campo dos medicamentos, 69,1% preferem os fármacos genéricos. Dos 30,9% que optam pelos medicamentos de marca, 62,5% dizem que é por terem maior confiança e 50,5% por terem expectativa de maior eficácia. Segundo os últimos dados da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) o volume da quota de mercado dos genéricos em Portugal atingiu 25,2% em Junho e o seu preço médio atingiu o valor mais baixo dos últimos cinco anos. Os mesmos dados indicam que os portugueses estão a consumir mais medicamentos, mas os gastos do Estado em comparticipações continuam a baixar, o que significa que a factura é mais pesada para o bolso dos utentes.

Contudo, quando chega a hora de cumprir as recomendações médicas, só 45,3% dizem segui-las à risca. Entre as restantes, 66,3% revelam deixar de seguir o prescrito por se sentir melhor ao fim de alguns dias - o que pode ser especialmente perigoso em medicamentos como os antibióticos, onde Portugal tem uma das maiores taxas de uso indevido e de bactérias resistentes. Há ainda quase 38% de pessoas que admitem que têm por hábito automedicar-se.

A Internet é também, cada vez mais, um recurso utilizado para procurar mais informação sobre sintomas, doenças e tratamentos, com mais de 70% dos inquiridos a reconhecerem que após uma consulta procuram dados sobre os medicamentos receitados. A prática de exercício físico, a perda de peso e a redução de sal na alimentação foram alguns dos exemplos dados de medidas que os inquiridos estão a tomar para melhorar a saúde de forma mais natural.