Por Luís Claro, in iOnline
BE apresentou projecto de lei para impedir penalização dos desempregados. IEFP garante que nunca aconteceu
Os centros de emprego estão a ameaçar cortar os subsídios aos desempregados que não respondam às convocatórias feitas através de mensagens escritas. A denúncia é feita pelo Bloco de Esquerda, que diz ter conhecimento de casos concretos e até de casos que foram além da ameaça. “Tivemos mesmo denúncias de pessoas a quem foi cortado o subsídio de desemprego e dito que tal teria acontecido por não responderem a uma convocação por SMS [mensagem escrita]”, diz ao i a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Aiveca.
Os bloquistas garantem que foram confrontados com “casos reais e concretos” e, para evitar situações destas no futuro, apresentaram já um projecto de lei no parlamento que “impede que os de-sempregados beneficiários de subsídio de desemprego possam perder esta prestação social por não resposta a uma mensagem SMS do centro de emprego”.
Num dos casos, registado no Porto, o desempregado recebeu um aviso de que o subsídio lhe ia ser cortado e, quando se deslocou ao centro de emprego, foi- -lhe comunicado que a situação se devia ao facto de não ter respondido a uma notificação para formação que lhe foi enviada por SMS.
Confrontado com estas denúncias, o presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional confirma que os desempregados estão ser convocados por SMS, mas nega que exista qualquer “penalização”. “Nenhum desempregado perdeu ou pode perder o subsídio de desemprego por não responder a um SMS. Nem está prevista nenhuma alteração que permita essa ocorrência”, garante Octávio Oliveira ao i.
As mensagens escritas estão, porém, a ser utilizadas para “possibilitar um ajustamento mais rápido e uma maior qualidade da resposta dos serviços públicos de emprego às empresas que necessitam de recrutar com celeridade”, argumenta o presidente do IEFP. A lei foi alterada em Março e um dos pontos mexidos foi precisamente a forma de notificação dos desempregados (ver caixa), que ficou inscrita na lei. E numa resolução do Conselho de Ministros desse mesmo mês ficou prevista, para os oito meses seguintes, a “implementação de um sistema de marcação de entrevistas, através de correio electrónico ou mensagem de texto para o telemóvel dos desempregados”. A mesma resolução indicava ainda a “melhoria do procedimento de inscrição electrónica dos desempregados, incluindo a possibilidade de apresentarem proposta de Plano Pessoal de Emprego”.
Mas os argumentos invocados pelo IEFP para justificar a aplicação destas normas não convencem os deputados do Bloco de Esquerda. O grupo parlamentar tem recebido várias denúncias sobre desempregados que, em alguns centros de emprego do país, estão a ser avisados de que, se não responderem às mensagens de texto enviadas por telemóvel, podem ficar sem a prestação que estavam a receber.
O Bloco de Esquerda considera, por isso mesmo, que é necessário clarificar a lei, já que, argumenta a deputada Mariana Aiveca, uma “mensagem escrita não pode equivaler” a uma notificação postal. “Até porque nem sempre é fácil verificar a origem do SMS. Se é mesmo de um serviço oficial ou não”, sustenta ainda a deputada bloquista.
Nesse sentido, o diploma, que já foi entregue no parlamento e cuja discussão deverá ficar para a próxima sessão legislativa, defende, logo na exposição de motivos, que “num momento em que apenas 46% dos desempregados contabilizados pelo INE recebem subsídio de desemprego”, a legislação deve ser clara e prever que “nunca será pela não resposta a um SMS que uma família perde o subsídio de desemprego”.