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Têm entre 25 e 31 anos, são licenciados, mas trabalham fora da área de formação. São portugueses que, apesar das previsões cinzentas, estão a conseguir ter sucesso. Numa altura em que o desemprego jovem subiu quase 30% desde Maio do ano passado, estas são três histórias de quem tenta inverter as estatísticas.
Foi há sete anos. Miguel Freire acabava de se formar em Educação Física, mas o diploma acabou guardado. O destino trouxe-lhe a oportunidade de dar continuidade a um negócio de família em vias de encerrar e há imprevistos que se tornam forma de vida. Hoje, com 31 anos, é agricultor, pai de quatro filhos e gasta todos os dias mais de uma hora para chegar a terras alentejanas.
Numa altura em que o desemprego jovem subiu quase 30% desde Maio do ano passado, Miguel Freire está do lado oposto das estatísticas. "Vir para o terreno, tocar às campainhas e não ficar sentado no café a fazer bolinhas nos jornais" foi a atitude que tomou.
Quando deu os primeiros passos no campo, Miguel Freire "sabia muito pouco". "Mas fui perguntando, estudando e hoje tenho uma base que me permite ir avançando", conta. Os conhecimentos deixados pela a experiência do pai e do tio não bastaram para domar a "vida no campo". Um curso para jovens agricultores e outro de gestão mostraram-se essenciais para gerir a herdade.
Alto, de cabelos bem escuros e sem as esperadas botas de borracha de um típico agricultor, fala ainda sobre a necessidade de apostar em produtos diferentes. No caso de Miguel, é o figo-da-Índia, uma espécie de cacto "pouco conhecido em Portugal". Espera-se que a planta, presente em vários hectares de terra, possa vir ser a alma do negócio em pouco tempo.
E o que diz desta moda de regressar à terra? "A agricultura pode estar na moda, mas esta é feita o ano inteiro", lembra Miguel. É aqui que o diploma de Educação Física pode dar uma mão: estar em forma é melhor do que não estar para resistir ao ano inteiro.
Pequenos de barriga para cima
Diogo Simões sabe hoje o que é andar nas estrelas, mas já provou a infelicidade de não poder voar. Depois de se formar em Língua e Cultura Portuguesa, esteve ano e meio à procura de trabalho na área - nem sequer excluiu a aventura além-fronteiras. Quando as alternativas pareciam esgotar-se, "surgiu um anúncio no jornal": "monitor pedagógico" e o contacto da empresa era a única referência no papel.
Como "trabalho com crianças desde os 14 anos, respondi ao anúncio e estou cá há quatro anos", explica Diogo, que tem 31 anos. Levar planetários insufláveis a várias escolas do país é o que faz. Um projector instalado no meio de uma grande cúpula permite que as crianças, alunos do básico e secundário, possam mergulhar em cenários como o interior do corpo humano ou possam viajar por entre os planetas da galáxia. Diogo, rodeado por pequenos de barriga para cima, coordena tudo aquilo que é projectado no centro do planetário.
Mas há mais. Para exercer o negócio das estrelas, teve de aprender conceitos de astronomia e ciência. E de tempos em tempos, viaja para o estrangeiro para actualizar conhecimentos e as tecnologias dos equipamentos utilizados.
O projecto, pioneiro em Portugal, surgiu há cerca de dez anos e, "por ser diferente", está a "correr bem", explica Diogo Simões. O canudo, "já não tão valorizado", pode não ensinar tudo, mas "deu ferramentas para ser possível trabalhar".
Perante a situação do país, critica a "falta de oportunidades idênticas dadas aos jovens, independentemente da área que se esteja a estudar". As opções são poucas e, refere Diogo, é preciso "começar por baixo" para se ter sucesso.
Costurar o emprego
Para Mafalda Tavares, de 25 anos, "desviar-se do caminho normal" parecer ser também uma alternativa ao desemprego. Tirou o curso superior em Design Industrial e deu o próximo passo: tentar encontrar uma oportunidade de trabalho. Acabou por não conseguir.
Mafalda, que tem mãos de pianista, "precisava de estar ocupada e ganhar algum dinheiro". Conseguiu um "part-time" num teatro de Lisboa, onde ainda trabalha, e mergulhou de cabeça num mestrado que ficou por acabar. A formação, defende Mafalda, "é sempre importante", mas "há pessoas que não nascem para ter uma licenciatura". Nos tempos que correm, "as coisas começam a ficar saturadas e, se calhar, muitas pessoas não o deveriam estar a fazer".
Apesar de não encontrar o trabalho idealizado, não baixou os braços e começou o próprio negócio como costureira. Pediu emprestada a primeira máquina e agora divide o próprio quarto com um "atelier" de costura.
Tudo o que sabe aprendeu sozinha e com a mãe. Não deixou de lado a licenciatura e tentou "trazer os processos do 'design' para as costuras". Hoje, tem já uma loja "online" e cria peças de vestuário com um estilo próprio. O emprego, afinal, estava ali ao lado da licenciatura em "design".