in Jornal de Notícias
O relator especial da ONU para o direito à alimentação, Olivier De Schutter, defendeu, esta segunda-feira, que a melhor estratégia para reduzir a fome no mundo é aumentar a educação e os direitos das mulheres.
"Partilhar o poder com as mulheres é um atalho para reduzir a fome e a malnutrição e é o passo mais eficaz para concretizar o direito à alimentação", disse Olivier De Schutter na apresentação do seu relatório "Género e o direito à alimentação", em Genebra.
O especialista citou estudos que demonstram que as hipóteses de sobrevivência de uma criança aumentam 20% se for a mãe a controlar o orçamento familiar.
Outros dados, recolhidos num conjunto de países entre 1970-1995, revelam que cerca de 55% da redução da fome pode ser atribuída a melhorias na situação das mulheres na sociedade. Só o progresso na educação das mulheres (43%) teve quase tanto impacto na redução da fome como o aumento da disponibilidade de alimentos (26%) e os avanços na saúde (19%) juntos.
"Melhorar o nível de instrução das mulheres e consequentemente as suas perspetivas económicas (...) constitui um dos fatores determinantes da segurança alimentar", reiterou.
Ao apresentar o relatório no conselho dos Direitos Humanos da ONU, Olivier De Schutter apelou aos governos que tomem iniciativas que dêem poder às mulheres, alertando que as barreiras à participação das mulheres na sociedade são ainda muitas.
"As mulheres não vão beneficiar das quotas para mulheres no mercado de trabalho se não forem tomadas medidas para fornecer serviços de cuidados infantis", exemplificou. "Medidas individuais não chegam - os papéis e as responsabilidades dos géneros devem ser abordados de uma forma 'holística' e sistemática".
Como um primeiro passo imediato, o relator apelou à remoção de todas as leis e práticas discriminatórias que impedem as mulheres de aceder a recursos agrícolas como terra ou créditos. Simultaneamente, pediu que as mulheres sejam aliviadas das responsabilidades domésticas, nomeadamente através da disponibilização de serviços públicos em áreas como os cuidados infantis, água e eletricidade.
Tarefas como ir buscar água e tomar conta das crianças e dos idosos equivalem a cerca de 15% do PIB dos países de rendimento médio e até 35% nos países pobres.
Segundo a agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 870 milhões de pessoas têm fome em todo o mundo e mais de 1,5 mil milhões têm carências de alguns dos nutrientes essenciais.