Por Diogo Pombo, in iOnline
Portugal é o terceiro país na Europa onde o número de casos de suicídio mais aumentou em 15 anos
Só Malta e Islândia superam o aumento de 9% de suicídios que Portugal registou entre 1995 e 2010. Traduzido em números, estima-se que, durante esse período, mais de cinco pessoas morreram por dia. Este é um dos dados do projecto OSPI-Europe, ontem apresentado na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, na Amadora, e inserido na estratégia de prevenção do suicídio coordenada pela Aliança Europeia Contra a Depressão (EAAD, na sigla inglesa).
O suicídio é um fenómeno por norma relacionado com doenças mentais, principalmente a depressão. Portugal tem a terceira taxa mais elevada entre 28 países europeus, um registo “muito à custa do suicídio de idosos”, enquadrou Ricardo Gusmão, coordenador da EAAD. O investigador do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa explicou ao i que os resultados do projecto, intitulado “Optimização de Programas de Prevenção de Suicídio e sua Implementação na Europa”, mostram “o essencial” e “podem querer dizer muitas coisas”. A “tendência das pessoas acharem que não estão doentes” é uma delas, diz, antes de acrescentar o “desconhecimento e ignorância” dos factores que conduzem à depressão ou ao suicídio.
O investigador criticou o facto de o suicídio não ser encarado como uma complicação médica. “Há a ideia errada de que qualquer indivíduo tem o direito e a liberdade de se matar”, lamentou. Em Portugal, por ano, morrem cerca de duas mil pessoas por suicídio, e as doenças mentais comuns afectam cerca de 23% dos cidadãos adultos, o correspondente a mais de dois milhões de pessoas. Só a depressão regista 400 mil casos. Mas “a doença mental só é um factor de risco se não for alvo de tratamento”, ressalvou Ricardo Gusmão.
O projecto OSPI-Europe foi aplicado em Portugal apenas em dois concelhos, com resultados mistos. Na Amadora, o número de pessoas que se tentou matar diminuiu 23%, de 150 para 115 em cada 100 mil habitantes. Em Almada, contudo, verificou-se um aumento de 13,1% (de 122 para 138 em cada 100 mil cidadãos). O projecto prolongou-se por 18 meses, entre Abril de 2010 e Outubro de 2011 e, a par de Portugal, também a Alemanha, a Irlanda e a Hungria executaram o projecto, com o objectivo de reduzir os números associados ao fenómeno do suicídio. O programa estendeu-se por quatro áreas de intervenção - os cuidados de saúde primários, a população em geral, os recursos comunitários locais (instrução a padres, polícias ou médicos) e os serviços específicos, como os grupos de auto-ajuda.