6.5.20

Salvar a economia é também salvar vidas

Paulo Cafôfo, in Dnotícias

O Governo da República terá de responder às solicitações da Região por uma questão de dever, mas também por uma questão moral

Estamos a voltar à normalidade possível, um regresso que não será o voltar à vida que tínhamos antes. Sabemos que temos de ter todos os cuidados para não descontrolar a pandemia, protegendo-nos e monitorizado toda a população.

E se, até agora, salvamos vidas, não salvamos o Serviço Regional de Saúde. A verdade é que tivemos, e ainda bem, um número baixo de pessoas infectadas, facto que não sobrecarregou ou colocou sob pressão o nosso Sistema de Saúde. Não significa isto que as debilidades e insuficiências tivessem desaparecido. Bem pelo contrário. A reorganização feita para combater a covid-19, levou a que se suspendessem serviços e actividades, consultas e cirurgias, diagnósticos e tratamentos. Que consequências é que tudo isto teve na saúde das pessoas? Quantos novos cancros não estamos a tratar? Quantos novos doentes diabéticos não estamos a a acompanhar? Quantos doentes com tensões arteriais não controladas estamos a perder? Não importa só a retoma da economia, é urgente a retoma dos diversos serviços de saúde e saber que medidas compensadoras serão implementadas para recuperar o que foi deixado para trás.

O impacto económico e social desta crise de saúde pública será brutal. Temos de absorver este choque e relançar a economia. Tal como na saúde, na economia precisamos de ventiladores que oxigenem as empresas e evitem a sua morte súbita, mas precisamos também de uma vacina que cure o vírus que as afectou. Sem uma estratégia e soluções novas e um verdadeiro apoio às empresas não vamos lá. E temos de usar, mais do que nunca, a Autonomia para nos salvarmos.

Temos de evitar a todo o custo, ou seja, com um grande investimento público, a falência de empresas e o aumentar do desemprego. É preferível investir na manutenção do emprego, do que ter despesas elevadas com subsídios de desemprego e outros encargos sociais.

Só haverá esperança se definirmos um novo rumo, começando de novo e corrigindo os erros do passado. Se nada será como dantes, também não faz sentido fazer igual. Não podemos voltar ao que éramos, sob pena de falharmos. E não podemos falhar. Já falamos disto há tanto tempo e nunca houve coragem para fazer diferente, porque para o PSD o mais importante sempre foram as obras nas vésperas de eleições. O modelo de desenvolvimento que tivemos teve o seu tempo, e infelizmente nos últimos seis anos, não existiu a capacidade de dar o salto. Esta é a oportunidade.

Apesar de toda a narrativa política por parte do Governo Regional, a verdade é que as coisas não estavam tão bem quanto quiseram fazer parecer. Podemos falar de crescimento económico consecutivo, a que não é alheio uma conjuntura nacional e internacional favorável, mas uma Região com 81 mil pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, e com um nível elevado de privação material severa de 7,3%, quando a média nacional é de 5,6%, é algo que nos deve fazer pensar na distribuição desequilibrada da riqueza na nossa terra. As desigualdades são um forte obstáculo ao desenvolvimento. Temos de pensar a Madeira e o Porto Santo numa perspectiva de desenvolvimento integral e não com uma visão assistencialista, de todas as pessoas e de todo o território, e lembro que não podemos desistir dos concelhos do norte.

Precisamos do apoio do Estado e da União Europeia. O Governo da República terá de responder às solicitações da Região, por uma questão de dever, mas também por uma questão moral. Como tenho dito, não se pode exigir à Europa soluções solidárias por forma a conseguirmos financiamento mais favorável, se não se fizer esforços semelhantes para aliviar as Regiões Autónomas.

Posto isto, há que investir com cabeça, realizar reformas estruturais e diversificar a nossa economia. Diversificar não significa necessariamente buscar sectores diferentes, mas olhar para os sectores que temos com uma visão inovadora, diminuindo a nossa dependência do turismo e tornando a nossa economia mais resiliente. Quero aqui esclarecer, que não se deve desinvestir no turismo, bem pelo contrário, pois é e tem de continuar a ser o sector estratégico da Região. Precisamos é de mais economia, ou seja, para além de valorizarmos o turismo, termos outros sectores que gerem igualmente riqueza e emprego.

Recomecemos com criatividade, soluções novas e inteligência, usando a Autonomia para defendermos as pessoas e relançarmos a Madeira. Esta é a oportunidade de diversificar a economia, restaurar o sector do turismo, aumentar a competitividade e captação de investimento externo, e ampliar a produção regional. São estes os pilares fundamentais da nossa recuperação. Posicionemo-nos para o desafio, pela Madeira, pelas pessoas.