15.3.08

Cada vez mais famílias afogadas pelas dívidas

Isabel Forte, in Jornal de Notícias

O número de famílias sobreendividadas no Grande Porto cresceu 114,29% entre 2006 e 2007. Em média, indica a Deco, cada agregado tem até seis créditos bancários, três dos quais associados à habitação, ao crédito pessoal e a um cartão de crédito. Os dados fazem parte do relatório anual da delegação regional do Norte da Deco, que hoje assinala o Dia do Consumidor com acções na Baixa do Porto. E revelam que a principal causa do sobreendividamento é a elevada taxa de desemprego existente na região.

Como amostra, só em Janeiro deste ano mais de 20 mil indivíduos estavam desempregados no concelho de Vila Nova de Gaia, número que no Porto passava as 12 mil. Uma situação preocupante, garante Carla Varela, coordenadora do gabinete jurídico e de apoio ao sobreendividado da Deco/Norte, que também afecta drasticamente o Vale do Ave. "A Deco/Norte está a projectar abrir, este ano, um pólo no eixo Braga/Guimarães, face à dificuldade crescente das famílias na região por causa do desemprego".

No ano 2000, a delegação da Deco mediou 16 processos de sobreendividamento no Grande Porto, mas em 2006 o total era de 280 e em 2007 atingia os 619. Nos primeiros dois meses deste ano, já 50 processos foram mediados.

"Assim que terminam as férias e se inicia o ano escolar, passamos a receber dezenas de pedidos de ajuda", diz Carla Varela. Os pedidos são analisados caso a caso, para que os juristas posteriormente estabeleçam contacto entre o consumidor e o banco, reestruturando o contrato de crédito.

As estatísticas da delegação caracterizam o sobreendividado como sendo casado ou em união de facto, com 39 anos, agregado familiar composto por três elementos, em regra com um filho menor e habilitações ao nível do ensino básico e 12º ano.

Na base dos pedidos de apoio está uma situação de desemprego, seguida pelo agravamento do custo do crédito, doença, deterioração das condições laborais, gestão deficiente do orçamento familiar, divórcio e despesas com educação. Acresce, frisa a jurista, que "muitas pessoas contraem novos créditos para pagar outras dívidas". O que é "um erro crasso".