22.3.08

Escutar o clamor dos pobres - Mensagem da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga

in Agência Ecclesia

Nestes dias de Tempo Pascal, impõe-se lembrar que é necessário e urgente que haja uma mentalidade geral mais esclarecida e formada com base em critérios de justiça e de responsabilidade social mais exigentes. Só assim, com o empenho de todos e, evidentemente, não dispensando políticas públicas e uma vasta acção social já desenvolvida pelas instituições de solidariedade social, se criará uma sociedade mais inclusiva e fraterna, onde também os pobres tenham vez e voz.
Nesta Páscoa de 2008, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga empresta a sua voz para insistir num convite que a todos, e em particular aos cristãos e ás suas comunidades, deve envolver: é preciso escutar o clamor dos pobres e abrir caminhos de justiça para erradicar a pobreza no nosso país

Nesta zona do país em que tantas dificuldades sociais se fazem sentir, mesmo quando muitas não merecem o holofote dos media, é necessário prestar uma maior atenção aos mais pobres. A pobreza é uma negação de direitos humanos. Ofende a dignidade da pessoa humana, atenta contra o seu direito à vida, impede o exercício desse outro direito fundamental que é a liberdade e constitui um obstáculo à participação, condição essencial de uma democracia autêntica.

A pobreza é também terreno fértil para o surgimento da violência e da anomia social, sendo, por isso, do interesse de todos os cidadãos e cidadãs promover o mais elevado nível de inclusão social de todos os grupos sociais, com o que isso supõe de reconhecimento das diferentes identidades e de não discriminação. Assim sendo, vencer a pobreza e proporcionar condições de vida digna para todos é uma condição necessária para uma cidadania aprofundada e uma democracia sustentável. É factor de crescimento económico e de progresso social geral. É caminho para uma vida mais saudável e mais feliz.

Neste contexto, impõe-se que as comunidades cristãs, que têm o dever de praticar a “fantasia do amor”, promovam as iniciativas necessárias para ir ao encontro das necessidades dos irmãos de modo a corresponder à interpelação exigente do Papa Bento XVI: “no seio da comunidade de crentes não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguns os bens necessários para uma vida condigna” (Deus caritas est, n. 20).

O combate à pobreza não é uma tarefa que se possa delegar, particularmente nos políticos. Trata-se de uma questão de justiça, é certo, e nela como cristãos nos devemos empenhar, mas, como lembra o Papa Bento XVI: “o amor será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. (Deus caritas est, n. 28, b). Nesta Páscoa, expressamos a todos um convite para que cada um assuma a sua parte de responsabilidade na prossecução deste objectivo.

Como afirma Bento XVI, “a vida não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus Se revelou com o Amor” (Spe salvi, n.5).

Páscoa 2008

Bernardino Silva
Presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga