19.3.08

Deficientes "proibidos" de utilizar multibanco

Hugo Silva, in Jornal de Notícias

Máquina inacessível fica mesmo em frente ao Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, na freguesia de Arcozelo


Plantar um degrau junto a uma caixa multibanco, tornando-a inacessível para quem se desloca em cadeira de rodas ou tem mais dificuldades de locomoção, poderá ser entendido como uma lamentável distracção. Mas como se classificará tal situação, se acontecer mesmo em frente a um centro de reabilitação profissional, frequentado por muitos deficientes motores, que assim se vêem impossibilitados de usar o multibanco ou, para o fazer, são forçados a entregar o cartão e o código a alguém que os ajude?

Mónica Cunha, Jorge Aguiar, Cristiano Venâncio e Hugo Morgado são formandos do Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, em Arcozelo, e sempre que precisar de ir ao multibanco são confrontados com o problema. O multibanco está lá, do outro lado da rua, mas tão inacessível como se estivesse a quilómetros de distância. Um degrau, supostamente colocado para facilitar o acesso à máquina (colocada num ponto mais elevado), impede a sua utilização por quem se move em cadeira de rodas. "Nem tento. Já sei que não consigo", desabafa Mónica. As dificuldades são corroboradas por Jorge, Cristiano e Hugo. Todos são obrigados a pedir auxílio. Todos são obrigados a dar o cartão e o respectivo código a quem estiver disposto a ajudar.

Os "benfeitores"

Na maior parte das vezes, são os colegas Jorge Filipe e Bebiano Carvalho que tratam do assunto. "São os benfeitores", sorri Mónica Cunha. "E sem receber comissão!", acrescenta, em tom de brincadeira, Jorge Filipe.

Quando não há ninguém conhecido para servir de intermediário, o remédio é ir a outro lado. Jorge Aguiar, que é de Castelo Branco, chega a preferir meter-se no comboio e sair em Campanhã, no Porto, onde tem máquinas que pode usar. Noutras situações, conforme sublinha Mónica Cunha, a solução é pedir dinheiro emprestado.

Hugo Morgado lembra que estão "fartos de reclamar", mas que ninguém resolve a situação. Jorge Aguiar escreveu para a Câmara de Gaia e para a Junta de Arcozelo, também sem êxito. Os formandos do Centro de Reabilitação lamentam a aparente falta de atenção para o problema.

O grupo recorda que o próprio Centro de Reabilitação de Gaia já pediu a instalação de uma máquina multibanco nas suas instalações, mas que a solicitação foi rejeitada. "Disseram que o movimento não justificaria a instalação da máquina", lamentaram os formandos, que por estes dias têm a vida ainda mais complicada. É tempo de festa e os passeios (mesmo aquele onde está a caixa multibanco) foram invadidos por bancas de venda.

Mais uma dificuldade, que se soma à falta de rampas junto da passadeira que é utilizada para atravessar a rua, carência que obriga à execução de manobras arriscadas.