22.3.08

Risco de abandono escolar em Paredes é o triplo do previsto

Tito Couto, in Jornal Público

Quase dois terços dos alunos do concelho não conseguem chegar ao fim do terceiro ciclo sem reprovações


Dois terços dos alunos do 7.º e 8.º anos do concelho de Paredes correm risco de abandono escolar. O número foi avançado pela Associação Paredes pela Inclusão Social (APIS), o projecto-piloto do movimento Empresários pela Inclusão Social (EIS).
A primeira fase do projecto lançado em Paredes, um dos concelhos do país com mais problemas de abandono escolar, assentou na monitorização de parte da comunidade escolar do terceiro ciclo. Dos 2321 alunos, a frequentar os 7.º e 8.º anos, 1281 estão em risco de abandono escolar. Estes números contrariam as estimativas do Ministério da Educação, que apontavam para um risco de abandono entre os 10 e os 20 por cento.

Para o presidente da Câmara de Paredes, Celso Ferreira, "se os dados do ministério eram preocupantes, os elementos agora recolhidos são bem mais preocupantes".
A equipa de monitorização divide os factores que contribuem para o abandono em quatro categorias: aluno, família, escola e território.

A falta de motivação e o desinteresse do aluno são responsáveis por 40 por cento dos casos de risco, enquanto a falta de condições e a degradação da escola recolhem 17 por cento das culpas. O não acompanhamento dos alunos pela família e as condições do meio em que estes se inserem são responsáveis por 11 e 12 por cento dos casos, respectivamente. Perto de 205 alunos acumulam dois ou mais factores.
Os números apresentados pela APIS são apenas uma pequena parte dos dados já coligidos, uma vez que os restantes elementos estão ainda sujeitos a confidencialidade. Sem revelar casos ou situações em concreto, os responsáveis da APIS sempre vão revelando que estão a braços com casos sociais que ultrapassam em muito o universo da educação. Um dado preocupante é o número elevado de reprovações, já que 57 por cento dos alunos não conseguem chegar ao fim do terceiro ciclo sem reprovar.

O projecto, que nasceu em resposta a um desafio lançado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, para que se fizesse da inclusão uma "causa nacional", envolve mais de 40 empresários locais. O objectivo traçado pela associação passa por conseguir que se atinjam os 12 anos de escolaridade obrigatória. Uma tarefa complexa num concelho com 7,6 por cento de taxa de analfabetismo e em que apenas 5,25 por cento da população com mais de 18 anos conseguiu concluir o ensino secundário.

Empresários ensinam
Os membros da Associação Paredes pela Inclusão Social foram desafiados a dispor de algum do seu tempo para ensinar o que é ser empreendedor. "Aprender a empreender" é o nome do projecto que visa habituar os mais novos a conviver com o mundo dos negócios.

Os empresários vão dinamizar seis módulos de 60 a 90 minutos, ao longo de seis semanas, em que treinarão pequenos empresários para uma economia de sucesso.