13.3.08

UE teme crise de insegurança devido às alterações climáticas

Célia Marques Azevedo, Correspondente em Bruxelas, in Jornal de Notícias

As alterações climáticas "multiplicam as ameaças" à estabilidade e "exacerbam as tendências existentes para a instabilidade" mundial e a União Europeia (UE) precisa de se preparar para enfrentar os "sérios riscos de segurança" que daí advêm. Estes avisos constam de um relatório que será hoje apresentado pelo Alto Representante para a Política Externa da UE, Javier Solana, e pela comissária das Relações Externas Benita Ferrero-Waldner aos chefes de Estado e de Governo reunidos em Bruxelas até amanhã.

Em 2050, o desaparecimento de países inteiros, a diminuição do espaço arável, a falta de água e de comida, as inundações e secas cada vez mais frequentes, serão inevitáveis, mesmo que se consiga limitar o aumento da temperatura em dois graus em relação aos valores pré-industriais e reduzir as emissões de dióxido de carbono para menos de metade dos valores de 1990.

Os dados usados são do estudo preliminar do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, que diz também que os efeitos serão tanto mais sentidos quanto mais povoada for a região. Se por um lado reconhece que são as zonas mais desprotegidas e vulneráveis a conflitos quem mais vão sofrer com as alterações climáticas, por outro, alerta que a Europa não estará imune - e que o seu meio ambiente, mas também a economia, serão largamente afectados.

O que a Comissão Europeia teme é um efeito "bola de neve". É que um quinto a população mundial vive em zonas costeiras, onde estão localizados portos de mar e refinarias de petróleo, que com a anunciada subida do nível das águas poderão pôr em risco a vida de milhões de pessoas sobretudo na América Central e na costa Este da China e da Índia. Isto, por sua vez dará origem a um "aumento de desastres e crises humanitárias", que pesarão nos bolsos dos países doadores.

A subida do nível das águas está a criar um fenómeno novo as migrações de populações por causa das alterações climáticas. Os movimentos de pessoas entre regiões vão aumentar o risco de "conflitos sociais e religiosos", além das disputas por novas "fronteiras terrestres e marítimas". O relatório defende mesmo a revisão do código do direito internacional.

As mudanças geográficas terão, também, consequências na extracção dos recursos energéticos. O degelo vai permitir explorar as zonas polares advertindo o relatório para as possíveis disputas internacionais, dando o exemplo da Rússia que recentemente colocou a sua bandeira no Pólo Norte, uma zona fértil em hidrogénio. "O controlo sobre os recursos energéticos é, e continuará a ser, motivo de instabilidade", lê-se.

O relatório concluiu que a União Europeia tem meios para tentar "mitigar" este processo como a Política Externa de Segurança Comum e a Política Europeia de Defesa, além de conseguir estabelecer um diálogo multilateral com países terceiros, essencial para as negociações de um acordo para o período pós-Quioto, depois de 2012. Negociações que a UE quer concluir a tempo da conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, em Copenhaga, em 2009.