8.3.08

Mais formação, mas menos oportunidades

Helena Norte, in Jornal de Notícias

Isabel Martins, vice-reitora da Universidade de Aveiro, lembra que as mulheres adiam hoje a maternidade


Dominam nas universidades, mas têm mais dificuldade de arranjar emprego. Já estão em todas as áreas profissionais, no entanto, poucas são as que ascendem a lugares de topo e, pelo mesmo trabalho, ganham menos de 70% do salário dos homens. E, paradoxalmente, as desigualdades aumentam proporcionalmente à idade e ao nível de qualificação. Não admira, pois, que a pobreza se escreva no feminino.

Em 2008, ainda faz sentido assinalar o Dia Internacional da Mulher em Portugal? Com base nas estatísticas, sim. As desigualdades persistem e os progressos são ainda bastante tímidos.

"É verdade que as mulheres já não precisam da autorização do marido para sair do país e que eles já não têm direito a abrir a correspondência das esposas, mas os avanços da lei não foram acompanhados de verdadeiras mudanças de mentalidade", sublinha Elza Pais, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).

A educação é, porventura, das áreas em que as mulheres portuguesas mais se afirmaram nos últimos anos. Há mais raparigas a acabar o Secundário, a entrar na universidade e a concluir as licenciaturas. O reverso da medalha é que se concentram mais em cursos associados e elevadas taxas de desemprego, como ciências humanas e sociais, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes a 2006.

Mais qualificadas, mas com menos oportunidades profissionais, destaca Elza Pais. As mulheres continuam a ser mais afectadas pelo desemprego e são ainda uma minoria em cargos directivos. Na Europa, representam apenas 32% dos postos de chefia das pequenas empresas e as assimetrias são ainda maiores nas grandes companhias, onde 90% dos lugares de topo são ocupados por homens.

Em Portugal, o peso do sexo feminino nos quadros superiores e administradores da Função Pública é claramente minoritário e diminuiu, entre 2004 e 2007, de 32,8% para 31,5%. O único grupo de profissões de qualificação elevada em que as mulheres dominam é o dos "especialistas das profissões intelectuais e científicas" e, ainda assim, com tendência para descer, de acordo com o economista Eugénio Rosa que, a partir das estatísticas oficiais disponíveis, traçou o quadro da situação da mulher portuguesa. No outro extremo - o da mão-de-obra não qualificada -, a situação é inversa (65% são mulheres).

As desigualdades reflectem-se num fosso salarial entre géneros. Ao contrário do que seria de supor, as assimetrias, a este nível, estão a agravar-se em Portugal. No ano passado, elas ganharam, em média, menos 137 euros do que eles. Não admira, pois, que um quarto das portuguesas esteja inteiramente dependente dos rendimentos dos companheiros, segundo o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Embora a tendência, a longo prazo, seja para acabar com essa dependência, a verdade é que tal não aconteceu nos últimos dez anos, sublinha a investigadora Lina Coelho. Dados do INE, relativos a 2007, revelam que mais de 2,8 milhões de mulheres encontravam-se inactivas (domésticas, reformadas ou estudantes) e este número não abrange as desempregadas.

A discriminação salarial é transversal a todas as idades e a todos níveis culturais. Em média, elas ganharam menos 137 euros do que eles, no ano passado. Contudo, as desigualdades aumentam em proporção directa à idade e à qualificação. Nos quadros superiores da Administração Pública e dirigentes de empresas, as mulheres têm salários 345 euros inferiores aos dos colegas masculinos.

O peso das tarefas domésticas e familiares continua desigualmente distribuído. Mais de metade do trabalho recai nos ombros das mulheres, sendo que apenas 17% dos homens desempenham sozinhos essas tarefas, de acordo com um estudo do Instituto de Ciências Sociais. Para inverter esta tendência, há que valorizar as funções valorizar. Aumentar a licença de paternidade é, para Elza Pais, uma medida que beneficiaria o pai e pouparia a mãe.