24.3.08

Pobreza afecta saúde mas não pela falta de cuidados médicos

Isabel Stilwell, in Destak.pt

Estudos revelam que a auto-percepção de se ser pobre e dependente acarreta um stress de antecipação crónico. Os mais pobres chegam a estar 10 vezes mais sujeitos a algumas doenças do que os abastados e morrem mais cedo.

«Quando se analisa o estatuto socioeconómico de uma população, fica claro que quanto mais se desce na escala social, mais probabilidade têm as pessoas de sofrer de uma saúde deficiente», revela a revista Scientific American, num artigo intitulado «Doente de Pobreza».

O risco, explicam, não é um risco estatístico subtil, já que para algumas doenças multiplica-se por dez a probabilidade de serem contraídas. Até agora a equação das causas parecia simples: menos cuidados médicos, uma alimentação pouco saudável, e condições ambientais degradadas, mas novos estudos indicam que nada disto é assim tão simples.

Um segurança de uma empresa no Reino Unido, por exemplo, tem mais probabilidades de ficar doente do que um administrador da mesma organização, e em Inglaterra a assistência na saúde é aces-sível, e utilizada, por todas as classes sociais.

Então o que está para além do óbvio? Se não há dúvidas de que, como diz o economista da Saúde, Robert Evans, «Beber água do esgoto é pouco prudente, mesmo para Bill Gates», há um outro factor que explica que mesmo quando as sociedades enriquecem esta discrepância se mantenha.

Segundo vem revelar a SA, a investigação prova a importância das «consequências psicossociais do nível socioeconómico de cada um». Por outras palavras, a autopercepção de se ser pobre e dependente acar-reta um stress de antecipação crónico (terei dinheiro para as prestações, para pagar a escola, e o que faço se perder o emprego, que alternativas tenho para resolver os meus problemas?), que acaba por provocar hipertensão, doenças cardíacas, perturbações da digestão, diabetes, e pior, suprime a curto prazo o sistema imunitário.

Os especialistas defendem que há que ter em conta essa causa subjectiva, quando se avalia o risco de saúde, e a expectativa de vida de uma determinada população ou indivíduo. Quanto às soluções, passam por dar às pessoas os meios, e a convicção, de que têm controlo sobre a sua existência e o seu futuro. E isso, defende a SA, faz-se distribuindo melhor a riqueza.