17.3.08

Pobres do Oeste reclamam apoio

Francisco Gomes, in Jornal Oeste Online

Técnicos dizem que só com mil euros é que se vive com dignidade


“Ponham-se no nosso lugar”, “Saiam dos gabinetes e venham para o terreno”, “Criem condições de emprego”, “Falem menos e ajam mais”. Estas foram as mensagens que técnicos de acção social ouviram em cinco concelhos do sul do distrito de Leiria – Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral, Peniche e Nazaré.

A revelação foi feita num encontro das Redes Sociais, realizado no dia 22 de Fevereiro, na Expoeste, nas Caldas da Rainha, para discutir o fenómeno da pobreza.

O fórum foi constituído por três grupos de trabalho, destinados a dirigentes, técnicos de intervenção social e pessoas em situação de pobreza dos cinco concelhos. Esta iniciativa integrou-se no Projecto “O combate à pobreza começa localmente” e foi promovido pelo Núcleo Distrital de Leiria da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (REAPN), organização não governamental, em parceria com as Redes Sociais concelhias do distrito de Leiria.

São objectivos do projecto, aumentar o conhecimento e as competências acerca do fenómeno da pobreza e contribuir para o reforço de capacidades das pessoas em situação de pobreza, criando espaços de participação e auscultação.

A discussão esteve relacionada com a definição e causas da pobreza, o papel de cada um no combate à pobreza e na sinalização de grupos e áreas críticas.

Segundo foi apontado, “a pobreza vai para além da questão económica, ela tem igualmente a ver com um conjunto de outras dimensões, como sejam a educação, habitação, emprego, saúde, ambiente e participação”.

Foi feita referência à “nova pobreza, associada a problemáticas resultantes da pós-modernidade, como sejam o isolamento/solidão, o alcoolismo e a toxicodependência, o desemprego como resultado do encerramento das empresas e da deslocalização destas para outros países, como consequência do fenómeno da globalização”. Também foi salientado que “a criação das falsas necessidades, através do marketing tem um papel negativo na sociedade, afectando todos e as pessoas em situação de pobreza não constituem excepção”.

Tendo em conta os diferentes patamares da pobreza – nível de necessidades básicas, nível de inserção na comunidade e nível de participação e de cidadania – as respostas a este fenómeno “têm de ser diferenciadas”.

Para o grupo das pessoas em situação de pobreza, este fenómeno é encarado como algo de “hereditário”, percorrendo gerações e revestindo-se “quase como que uma fatalidade”, embora refiram como causas “a falta de oportunidades, a existência de um agregado familiar numeroso e a falta de emprego”.

O diagnóstico aponta para que as reais causas da pobreza ao nível da Região Oeste tenham a ver com “a precariedade do mercado de emprego, com a ausência de formação ou experiência profissional e desinvestimento face ao sistema educativo, com a inadequação de respostas/programas à população-alvo, com a apatia, comodismo/passividade e dependência das pessoas em situação de pobreza face às instituições e serviços, com as disfuncionalidades familiares e com os problemas de saúde – físicos e psíquicos”.

Para sair da situação de pobreza, o grupo dos destinatários da intervenção social referiu que tem empreendido várias estratégias, tais como “aumentar as qualificações escolares e profissionais, procurar manter o equilíbrio pessoal e familiar e procurar emprego”. Consideram o apoio institucional “positivo”, embora nem sempre suficiente e encontram muitas vezes a rede familiar como estratégia de sobrevivência.

Para este grupo, o valor mínimo de subsistência oscila entre os €426 e os €1200, enquanto que para os técnicos o valor defendido por indivíduo, “para ter acesso a um conjunto de condições dignas”, é de €1000.