8.3.13

Dia da Mulher. Elas sofrem mais com a austeridade do que os homens

in iOnline

or Catarina Falcão, publicado em 8 Mar 2013 - 03:10 | Actualizado há 12 horas 7 minutos
A crise está a aumentar “as desigualdades de género”. Por cada filho uma mulher perde 12% do salário

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Na próxima terça-feira o Parlamento Europeu vai votar em Estrasburgo um relatório que aponta as medidas da austeridade como uma das principais razões para o aumento das desigualdades entre homens e mulheres na União Europeia. O relatório foi apresentado esta semana em Bruxelas e entre os e as eurodeputadas dos vários grupos partidários a conclusão é óbvia: as mulheres são as maiores vítimas da crise europeia.

Este relatório, que analisa o impacto da crise económica na vida das mulheres, foi elaborado pela Comissão de Direitos da Mulher e Igualdade dos Géneros (FEMM), que tentou apurar se houve de facto um agravamento das condições de vida das europeias. As conclusões do documento apontam que as medidas de austeridade, implementadas nos países sujeitos a planos de ajustamento, “estão a debilitar o estado-providência, a ampliar as discrepâncias na sociedade e a dar origem a injustiças sociais e económicas ainda mais significativas, incluindo desigualdades de género”. Esta será a mensagem levada pela FEMM, não só ao PE mas também à Comissão Europeia, num encontro informal com Durão Barroso que também decorrerá na terça-feira.

Apesar de problemas como a discrepância salarial entre homens e mulheres, a maternidade e a representação feminina em cargos de topo, quer políticos quer empresariais, já serem discutidos na Europa há muito, com a crise estas tendências agravaram-se abruptamente. Os salários entre os dois sexos aproximaram-se - devido principalmente à descida dos vencimentos dos homens e ao aumento de desemprego em sectores tipicamente masculinos, como a construção civil -, mas as mulheres europeias continuam a ganhar, em média, menos 16,2% que os homens (em Portugal a diferença é de aproximadamente 13%).

Para a redactora principal do relatório e vice-presidente da FEMM, Elisabeth Morin-Chartier, esta diferença ocorre porque é a mulher que “paga os custos da maternidade”. Um estudo da OCDE revela que por cada filho a mulher perde 12% do seu salário e, segundo o Eurobarómetro apresentado também esta semana, a percepção dos europeus é que o critério mais importante no recrutamento de uma mulher é ter ou não filhos. Esta realidade é acentuada pela actual “redução das prestações sociais que ajudam na conciliação da vida pessoal e da vida profissional”, segundo a eurodeputada.

Com uma grande predominância das mulheres em trabalhos a tempo parcial e menos qualificados, as reformas laborais na Europa são também apontadas como um dos principais focos de discriminação. A eurodeputada Inês Zucker, membro da FEMM, considera que em Portugal “o congelamento de salários e a retirada subsídios” têm sido alguns dos maiores golpes para as mulheres, apontando ainda que em 2010, no sector da indústria, as trabalhadoras ganhavam menos 32% que os homens que desempenhavam as mesmas funções.

Dois dos diplomas que poderiam ajudar a colmatar algumas das situações de maior desigualdade entre homens e mulheres na União Europeia continuam pendentes. Um deles é a proposta da Comissão para a inclusão de uma cota de 40% para cargos não executivos nas maiores empresas europeias, ao qual alguns países europeus, como, por exemplo, a Alemanha se opõe de veemente e outro é a directiva encabeçada por Edite Estrela, vice-presidente da FEMM, sobre o alargamento das licenças de maternidade para 20 semanas com pagamento integral nos 27. “O Conselho Europeu tem-se recusado a tomar posição para impedir que se inicie processo negocial” acusa Edite Estrela, sublinhando no entanto, que o Parlamento Europeu não está parado e vai insistir na rápida aprovação da medida.