Por Valter Marques, in Sábado
O presidente da câmara mandou erguer um muro que os separa do resto dos moradores
Numa pequena cidade no noroeste da Roménia, o presidente da câmara municipal decidiu realojar a comunidade cigana do bairro de Craica para Baia Mare, uma zona com dezenas de edifícios antigos com poucas condições. Em Junho, mandou erguer um muro que os separa do resto dos moradores locais. Catalin Chereches está a ser acusado de racismo pelas organizações de defesa dos direitos humanos, que o acusam de querer “aprisionar a comunidade cigana num gueto.”
Segundo o economista que lidera a câmara, o muro de Baia Mare, com 1.80 metros de altura e mais de cem de comprimento, foi construído para “proteger as crianças da estrada principal”, acrescentando que este pode ser “um passo em frente para a civilização e a emancipação” da comunidade cigana.
As fotografias recolhidas no interior do gueto mostram as condições desumanas em que vivem milhares de ciganos, e as dificuldades porque passam num local sem as mínimas condições de habitabilidade – e onde as temperaturas podem chegar aos 26 graus negativos. Moram cerca de 500 famílias neste lugar onde falta espaço e só existem duas casas de banho para dezenas de apartamentos.
Contudo, há quem esteja agradecido ao líder do executivo municipal por este realojamento. É o caso de Sandu, que trabalha na construção civil. No bairro onde habitava, vivia com a mulher e seis crianças numa barraca. Agora, tem um pequeno apartamento mobilado, e até conseguiu comprar uma televisão LCD. “A minha mulher está desempregada. Agradeço ao presidente por me dar este lugar.”
No antigo bairro onde moravam, a comunidade não tinha água canalizada, rede de esgotos ou energia eléctrica. Eram barracas rodeadas de lixo.
Nem todos os habitantes do bairro de Craica foram realojados em Baia Mare. Trandafir Varga, um dos líderes da comunidade cigana, afirma que quer continuar em Craica. Foi ali que sempre viveu, foi naquele lugar que a sua mulher faleceu e é nele que quer, também ele, acabar os seus dias. “Lá [em Baia Mare] estaríamos isolados. É como um campo de concentração, nós não vamos para lá.”
Apesar da polémica, a decisão de erguer o muro contribuiu para tornar o presidente Catalin Chereches no político mais popular da região. Em Junho de 2012, o autarca voltou a vencer as eleições locais com a esmagadora margem de 86% dos votos. “Ele fez um muito bem em erguer o muro”, afirma Michael Szinn, cidadão local. “Os miúdos ciganos antes andavam pelas ruas, e atiravam pedras aos carros.”
Apesar das acusações por parte das organizações de defesa dos direitos humanos, o presidente continua a garantir que é melhor assim. “O realojamento é apenas uma solução temporária”, acrescenta. “Pretendemos construir moradias térreas de betão com um pequeno jardim.” E remata: “Eu quero apenas integrar essas pessoas. Não tenho nada a perder, estou apenas interessado em integrá-las num sistema baseado em três componentes: trabalho, educação e habitação. É só isso.”