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Mais de 12 mil crianças doentes já foram apoiadas pela Fundação do Gil desde que a instituição foi criada, em 1999, na sequência da Expo'98, segundo a administradora, Margarida Pinto Correia.
Em declarações à Lusa por ocasião dos 15 anos da exposição mundial realizada em Lisboa, que se assinalam na quarta-feira, a responsável explicou que, quando a Expo terminou, a "administração achou que seria um desperdício deitar fora uma mascote [Gil] que tinha uma boa capacidade de 'merchandising'".
"A administração teve a visão de aproveitar a mascote a favor de uma causa. Contactaram com o Ministério da Segurança Social, que identificou o lado social da pediatria como lacuna", acrescentou.
Só no ano 2000 foram identificadas centenas de crianças que estavam internadas apenas por razões sociais.
Margarida Pinto Correia está na fundação desde 2003, ano em que a empresa Parque Expo, que tutelava a fundação, decidiu que estava na altura de a instituição "caminhar sozinha".
"A fundação teve de passar a ter outros encargos e fundos para isso. A Parque Expo dava um donativo anual", explicou a administradora, que iniciou funções a identificar possíveis apoios, patrocínios e mecenato.
"Tivemos de encontrar formas de sustentabilidade e passámos a ser ativos e não reativos" porque até aí o trabalho desenvolvido tinha sido o de fazer um levantamento das necessidades junto dos hospitais.
Em 2004 iniciou-se o projeto de estímulos emocionais Dia do Gil, que leva semanalmente a Hora do Conto, a Hora da Música e a Hora da Descoberta ao serviço de pediatria de 20 hospitais e chega a uma média de sete mil crianças por ano.
No ano seguinte foi a vez do projeto Unidades Móveis de Apoio ao Domicílio (UMAD), que apoia crianças com doenças crónicas de nefrologia, pneumologia, gastrenterologia e neonatologia. Todos os dias, duas carrinhas equipadas como um consultório médico de especialidade dão resposta às crianças nas respetivas casas.
"Desde 2006 retirámos cinco mil crianças dos hospitais para casa. Autonomizámos mais de quatro mil e damos apoio a mil por ano, em casos de doenças mais complicadas", disse Margarida Pinto Correia.
No verão de 2006 abriu em Lisboa o centro de acolhimento Casa do Gil, equipada com meios médicos e enfermeiros 24 horas por dia. "É o espelho do que defendíamos: a criança não deve estar internada se não for absolutamente necessário para a sua saúde", frisou a administradora, acrescentando que o tempo médio de permanência na casa é de cinco meses e meio.
Pela Casa do Gil já passaram 150 crianças, todas elas com reinserção social, e algumas foram adotadas, o que a responsável disse ser "raro porque se trata de crianças com problemas de saúde".
Mais recentemente surgiu o programa Saúde em Família, que apoia as famílias das crianças doentes, com as deslocações aos hospitais, refeições, roupa ou aquisição de bens materiais necessários à criança.
Depois de ter percebido, no primeiro ano de Casa do Gil, que 70% das crianças que recebiam eram oriundas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, a fundação desenvolveu o projeto Futuro em Casa, no qual trabalha com os países de onde são naturais as crianças para uma melhor reintegração.
Sobre as consequências da extinção da Parque Expo, decidida pelo Governo, Margarida Pinto Correia disse serem "imensas" porque se perde "o pai".
"A Fundação do Gil foi instituída em 1999 em dois terços do Parque Expo e um terço do Instituto da Segurança Social. O capital social inicial foi este. Neste momento, a Parque Expo deveria definir quem fica a tomar conta da Fundação do Gil e a ministra Assunção Cristas considera que não faz sentido ficar adjudicada àquele ministério", explicou.
Frisando que o processo de encontrar um instituidor "não tem nada a ver com dinheiro", Margarida Pinto Correia adiantou que decorrem negociações e que tudo deve estar resolvido até final do ano.
No futuro, a administradora espera abrir mais duas UMAD até 2015 e levar o Dia do Gil a mais pediatrias: "Há 53 pediatrias no país. Enquanto não chegarmos a todas não descanso".
Adiado por causa da crise fica o sonho de abrir um centro de acolhimento de cuidados continuados e paliativos para crianças. "O nosso 'found raiser' tem de ser para viver e não para sonhar", disse.