23.5.13

Pensar a sociedade

Joaquim Azevedo, in Público on-line

Escrevo o primeiro artigo de uma série que um conjunto de professores da Universidade Católica Portuguesa, do Porto, irá escrever em cooperação como PÚBLICO. É oportuno, portanto, como responsável institucional, que deixe aqui uma nota introdutória, por conta desta aventura.

O momento é particularmente exigente para toda a sociedade portuguesa e nós não somos nem podemos ser indiferentes aos desafios desta hora, que é, como bem sabemos, muito difícil para a grande maioria dos portugueses.

Somos uma universidade sui generis, com uma matriz confessional, que nos ancora num dos mais relevantes veios culturais de Portugal, desde a sua fundação, com destaque para os valores do humanismo, da solidariedade e da justiça social. Esta tradição é particularmente útil num momento em que tudo parece tremer, a incerteza se agiganta e é preciso coragem e redobrada capacidade de inovação. Só inova quem tem raízes, só parte com liberdade frente a um futuro temível quem tem esperança e redobrada confiança. Nós vivemos com os olhos postos no presente, porque é aqui e hoje que é preciso dizer: presente! O amor, pedra angular
do nosso modo de ser e estar, é para hoje, feito de obras. No futuro…será demasiado tarde!

Somos uma instituição cultural universitária, dedicada ao ensino e à investigação em áreas muito diversas, desde as artes à biotecnologia, da gestão à saúde, do direito à teologia, da bioética à educação e à psicologia. Temos um corpo docente experiente, dedicado e competente, maioritariamente jovem, que entende que deve partilhar com a comunidade aquilo que são as principais conquistas do saber em que participam. Não abdicamos, por isso, de inscrever, no espaço público, o nosso contributo para a
redefinição de um país que precisa de mudar de rumo. Estamos disponíveis para trabalhar em comum, laborando nas fronteiras dos problemas mais difíceis. O ensimesmamento de pessoas, grupos, bairros, cidades, países, só pode conduzir ao desnorte, à violência e à guerra. Precisamos do outro e do diferente para crescermos, em comum e no bem comum.

Damos o nosso contributo apenas como quem faz o que tem a fazer, pois o que se nos pede no presente é fazermos, cada um a seu modo, todos livre e dignamente, o que temos de fazer, passo a passo, de modo decente e exigente. Precisamos de seguir caminhos novos, em concertação e com determinação; o pior que nos poderia acontecer seria repetirmos, nos próximos vinte anos, os erros que nos conduziram à situação atual. Precisamos de ser heróis, sim, mas na definição de Camus: gente comum que faz coisas extraordinárias por razões de decência.

Existe em Portugal, geralmente escondido dos media e pelos media, um fervilhar enorme de ideias, iniciativas e empreendimentos que estão a revelar-nos um país novo e bem mais capaz de nos conduzir a uma nova prosperidade, à nossa medida e devidamente sustentada na liberdade, na solidariedade e na justiça. É também por e para esse país que estaremos aqui todas as semanas no mundo digital.