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Desemprego, lojas a fechar, idosos cada vez mais fragilizados, famílias desesperadas: este é o retrato que a vereadora do Desenvolvimento Social da Câmara de Lisboa, Helena Roseta, faz da capital, criticando fortemente o Governo pelas medidas tomadas.
"A primeira coisa que verificamos no impacto da crise na cidade é o desemprego. Nós tínhamos até ao ano passado cerca de 1.000 novos desempregados todos os meses. É uma brutalidade", apontou a autarca numa entrevista à agência Lusa.
"As pessoas estão a ter rendimentos cada vez mais baixos, temos o problema da dificuldade de acesso à habitação dos que chegaram em último lugar. E agora também com a nova lei das rendas", acrescentou.
A Câmara de Lisboa tem sido muito crítica da nova lei do arrendamento urbano, pelo impacto que está a ter numa grande parte da população idosa e no comércio da cidade, nomeadamente quanto ao aumento do valor das rendas e pela facilidade de despejos.
Helena Roseta criticou ainda medidas anunciadas pelo Governo, como os cortes nas pensões, considerando que vão agravar as condições de vida dos idosos.
"Isto põe em causa tudo. Tudo o que foi a construção europeia e a construção democrática de Portugal desde 1974. Nem no tempo de Marcelo Caetano ou de Oliveira Salazar se tiravam as pensões às pessoas. Isto é terrorismo social. É uma coisa inacreditável", afirmou a autarca.
No meio de uma "tempestade perfeita", em que de "todos os lados as notícias são más", Helena Roseta afirmou que a Câmara de Lisboa "tem sido obrigada a tentar colocar soluções", como o subsídio municipal de renda (cujas candidaturas começam em junho), medidas de apoio ao empreendedorismo (para relançar o emprego) e benefícios para o comércio local.
"Mas nós sabemos perfeitamente que não são 'as' soluções, porque são pequenas gotas de água, mas estão em sentido contrário do que o Governo está a fazer. A Câmara procura de alguma maneira fazer frente, mas o que está errado nisto tudo não são as políticas da Câmara de Lisboa. O que está errado é que estamos a assistir a uma crise que começou por ser financeira, mas que se transformou em económica e social, e que é todos os dias agravada por um Governo que todos os dias em vez de nos dar respostas dá perguntas e incertezas", afirmou.
"Todos os dias somos ameaçados que mais alguma coisa nos vai ser tirada ainda. É muito difícil governar uma cidade nestas condições", disse a vereadora.
Emocionada, Helena Roseta apontou que "todos os dias há uma pessoa que fica sem casa, todos os dias há mais uma pessoa que fica sem emprego, todos os dias há mais uma pessoa que tem de ir bater a porta de alguém para conseguir comer. Isto está a acontecer todos os dias" e que as famílias "estão desesperadas".
A autarca alertou para que a crise "já está a dar torto para muita gente" e que "dentro das famílias a guerra civil já está instalada" e indignou-se com o atual Governo, admitindo não perceber como "é que não percebe" estas situações "e não muda o caminho" das medidas.
Segundo os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego subiu em Portugal para os 17,7% no primeiro trimestre. O Eurostat aponta que a região de Lisboa apresentou uma taxa de desemprego jovem acima dos 40% em 2012.
Mais de 14.000 inquilinos pediram um estatuto de carência económica, que pode estabelecer um teto máximo na actualização do valor de rendas, no âmbito da lei do arrendamento urbano, segundo dados da Autoridade Tributária e Aduaneira.
Este ano, até Abril, a Associação de Defesa do Consumidor abriu 1.543 processos de sobreendividamento. Em 2012, foram 5.407 as famílias sobreendividadas apoiadas pela DECO.
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