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As universidades portuguesas estão a utilizar alunos estrangeiros como forma de se promoverem, mas nem sempre têm condições para os receber, afirmou hoje à agência Lusa um representante dos estudantes Erasmus.
“As universidades usam muito a estratégia de internacionalização que têm, que está relacionada com os estudantes de mobilidade, para dizerem que são uma boa universidade”, declarou Paulo Nogueira Ramos, vice-presidente da Erasmus Student Network Portugal (ESN Portugal), uma associação que ajuda à integração dos estudantes em mobilidade.
Paulo Nogueira Ramos sublinhou que “algumas [universidades] até abusam, porque não têm capacidade para receber tantos estudantes de mobilidade”, provenientes de outros Estados-membros da União Europeia.
“Acredito que o desenvolvimento só é sustentável se elas já tiverem condições suficientes para os estudantes que cá estão e se, ao aumentarem as vagas, não diminuírem essas mesmas condições”, adiantou.
A título de exemplo, o representante dos alunos falou dos cursos na área das ciências, onde existem aulas laboratoriais e "não há espaço para tanta gente".
Na opinião de Paulo Nogueira Ramos, apesar de esta situação ser menos evidente do que há dois anos, “acaba por ser um paradoxo de marketing, pois enfraquece a imagem [das instituições]”.
A agência Lusa pediu uma posição sobre esta matéria ao Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), mas aquele organismo escusou-se a comentar.
A tendência em Portugal tem sido para um aumento na recepção de estudantes em mobilidade, revelam dados avançados pela Comissão Europeia, indicando que o número de estudantes Erasmus passou de 5583 no ano lectivo de 2007/2008 para 9200 em 2011/2012.
No ano lectivo passado, as instituições portuguesas que receberam mais estudantes de Erasmus foram a Universidade Técnica de Lisboa, a Universidade de Coimbra, a Universidade do Porto, a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Lisboa.
A origem destes estudantes tem-se mantido semelhante nos últimos anos. No ano lectivo anterior, Espanha foi o país que enviou mais estudantes Erasmus para Portugal, seguido de Itália, situação que, explicou Paulo Nogueira Ramos, se deve à “proximidade linguística e geográfica”.
“A Polónia está cada vez mais forte”, assinalou, justificando este facto com a estratégia geopolítica deste país e explicando que dos principais países fazem ainda parte a República Checa e a Alemanha.
Segundo Paulo Nogueira Ramos, o que os atrai em Portugal é, essencialmente, o custo de vida barato: "Portugal é quase a mesma coisa que um país de leste, nesse campo”.
Ao baixo custo de vida, acresce o facto de “ser um país que fica à beira-mar plantado” e de não ser muito conhecido dos estudantes, que actualmente vêem o Erasmus "como uma aventura".
Existem também casos de estudantes que “nem consideram Portugal como primeira opção, mas acabam por gostar”.
Apesar de existir “muita gente de leste quer ficar cá a trabalhar ou ficou cá a trabalhar”, este não é o principal objectivo dos estudantes que vêm para o nosso país, admitiu Paulo Nogueira Ramos, explicando que, no final da mobilidade, “o que os marca mais são os momentos que passam”.
O programa Erasmus tem em vista a mobilidade de estudantes e docentes do Ensino Superior entre Estados-membros da União Europeia e associados, o que permite aos alunos estudar noutro país por um período de tempo entre 3 e 12 meses.
Lusa/SOL