12.9.14

Adriano Moreira: O que é uniria os portugueses? “Pão na mesa e trabalho”

in Página 1

Ex-líder do CDS-PP diz que há muito foi atingida a "fadiga fiscal" e que as estatísticas não revelam uma verdadeira melhoria das condições de vida.

O antigo presidente do CDS-PP Adriano Moreira defendeu, na noite de quinta-feira, que aquilo que impede o consenso são os incitamentos à separação entre portugueses, sobretudo entre ricos e pobres, argumentando que estes precisam de "pão na mesa e trabalho".

Numa intervenção sobre a democracia cristã na "escola de quadros" do CDS-PP, que decorre em Peniche, Adriano Moreira, reiterou a ideia de que a “fadiga fiscal”, expressão de que se arroga criador, já foi atingida há muito tempo. Para resolver o problema, a solução: “É preciso reanimar de as instituições da União Europeia que estão em pousio e das Nações Unidas que estão paradas. A crise não é europeia, é mundial”.

O vice-primeiro-ministro e presidente do CDS-PP, Paulo Portas, fez um "desvio lúcido" para passar por Peniche e abraçar Adriano Moreira, a quem ofereceu uma "aguardente antiga e bem portuguesa" como presente do aniversário que o antigo líder democrata-cristão celebrou recentemente.

O professor universitário, que assinou o chamado manifesto dos 70 pela reestruturação da dívida, criticou, na sua intervenção, os "incitamentos à separação entre velhos e novos, entre funcionários públicos e trabalhadores privados, sobretudo, entre ricos e pobres".

Segundo o antigo presidente do CDS, é isso que "impede muito aquilo que hoje se chama de uma maneira muito eloquente o consenso".

"É tão fácil descobrir qual é o problema essencial hoje dos portugueses, para os unir: é pão na mesa e trabalho, esta coisa simples", disse.

Reestruturar não, Maria Luís não gosta
O ex-líder diz que é necessário reerguer o país, não reestruturar . “Essa palavra incomoda a ministra das Finanças”, disse, tendo soltado alguns risos entre a plateia. Para o especialista em relações internacionais a educação é fundamental para a soberania de um povo. “Tivemos uma desatenção no plano educativo que é hoje uma chaga difícil de tratar”, acrescenta.

E desafiou ainda os jovens centristas a fazerem um manifesto à ministra das Finanças a lembrar que o fundador da nacionalidade, D. Afonso Henriques, não pagou ao Papa as onças em ouro que lhe prometeu.

"Acentuou-se a circunstância que há desde o começo da nacionalidade de que o país precisa de um apoio externo. Precisou logo da Santa Sé, D. Afonso Henriques. Prometeu ao Papa, de quem era súbdito, de que pagaria seis onças de ouro, quatro onças de ouro por ano, e o cronista diz que nunca pagou, por muito bem lembrado. Não sei se podem escrever algum manifesto à ministra das finanças sobre D. Afonso Henriques", afirmou.

"Miséria está a expulsar a pobreza"
Adriano Moreira considerou ainda que a melhoria de indicadores não mostra uma verdadeira melhoria das condições de vida.

"Quando falam das estatísticas que melhoram, há um aspecto que eu acho que não melhora, parece que melhora. Porque a miséria está a expulsar a pobreza, emigra a pobreza, vai ficando a maior das incapacidades", afirmou.

O antigo presidente do CDS criticou a União Europeia que, considerou, "substituiu as diferenças ideológicas por um unificador ‘novo-riquismo'", e está actualmente dividida entre "Europa dos pobres" e "Europa dos ricos".

Adriano Moreira defendeu ainda que a crise europeia já devia ter levado à convocação do Conselho Económico e Social das Nações Unidas e referiu-se à situação de "protectorado", expressão usada por Paulo Portas para designar a intervenção externa. "Eu dispensava na minha vida ter visto ministros portugueses a ter que discutir com empregados de organizações internacionais", lamentou, sublinhando que "o lugar dos ministros é no Conselho Europeu", acreditando que "o poder da voz é muitas vezes capaz de vencer a voz do poder".

A "escola de quadros" do CDS-PP, um novo modelo de "rentrée" política centrista, começou na quinta-feira em Peniche, onde até domingo se reunirão cerca de 150 jovens com idades entre os 16 e os 30 anos.