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Vivem mais e sozinhas, com menos dinheiro e em casas mais degradadas, segundo estudo divulgado
As mulheres ganham, em média, menos 200 euros de reforma do que os homens, segundo um estudo nacional divulgado nesta terça-feira e que alerta para as dificuldades por que passam as idosas em Portugal.
«As mulheres têm uma esperança de vida maior, mas isso não quer dizer que esse tempo seja vivido de forma saudável», sublinhou Pedro Perista, citado pela Lusa, um dos responsáveis pelo estudo «Género e Envelhecimento», apresentado hoje durante o seminário da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) na Assembleia da República.
Dois investigadores do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS) cruzaram os dados existentes (desde os Censos 2011, aos números do Instituto da Segurança Social e da Eurostat) e traçaram um retrato das portuguesas com mais de 65 anos. Resultado: as mulheres vivem mais sozinhas, com menos dinheiro e em casas mais degradadas.
No ano passado, a GNR contabilizou 23 mil idosos a viver sozinhos. Dois em cada três eram mulheres (63,5% mulheres versus 37,5%). Muitas chegam à velhice sós e sem dinheiro. Se a pobreza está muito associada aos idosos, é entre as mulheres que a situação é mais preocupante.
O investigador realçou «a diferença abismal entre a situação de pobreza dos idosos antes e depois de receberem as prestações sociais: antes das prestações, a maior parte da população idosa estaria numa situação de pobreza. Depois das transferências sociais as diferenças evidenciam-se», com uma clara desvantagem para as mulheres.
O valor médio das pensões de velhice atribuídas aos homens com mais de 65 anos rondava os 500 euros, em 2010, enquanto o valor atribuído às mulheres se ficava nos 297 euros.
Em algumas situações, as diferenças de rendimentos poderão não estar diretamente relacionados com os anos de trabalho, mas apenas com os descontos feitos: «É preciso distinguir as carreiras contributivas e o trabalho, porque existem muitos casos de mulheres que trabalharam mas não descontaram. Isto tem depois um impacto nas taxas de pobreza», sublinhou o investigador do CESIS.
No caso das pensões de invalidez verifica-se o mesmo fenómeno, com os homens a ganhar em média 358 euros e as mulheres apenas 281 euros.
Olhando para a pensão social de velhice, destinada a quem não tem qualquer sistema de proteção social obrigatória ou não fez descontos suficientes para ter direito à pensão de velhice, as mulheres aparecem em maioria: representam dois em cada três beneficiários, entre os 80 e os 84 anos (74%), e quatro em cada cinco beneficiários, com mais de 85 anos (82,7%).
Quando as pensões são demasiado baixas, o estado dá o «Complemento Solidário para Idosos». Segundo números apresentados hoje, dois em cada três beneficiários deste apoio são mulheres.
As mulheres também surgem neste retrato como vivendo em habitações mais degradadas: casas com tetos que deixam passar água, com humidade nas paredes ou janelas apodrecidas são a realidade de 27,4% das idosas. Nas mesmas condições vivem 21,9% dos homens, com mais de 65 anos.
Para 4,7% das mulheres, viver num sítio sem casa de banho, duche ou autoclismo não são coisas do passado, passando-se o mesmo com 3,5% dos homens.
As más condições das habitações dos idosos levou o Governo a criar, em 2008, o Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas que deu resposta, na primeira fase, a 1.100 pessoas. «Destas, 57,2% eram mulheres», concluiu o investigador.