in Jornal de Notícias
Um grupo de hospitais do Norte negou, esta sexta-feira, a existência de racionamento de medicamentos para doentes naquelas unidades e censurou o Conselho de Ética para as Ciências da Vida por trazer o tema a público em altura de "cortes".
O Conselho de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) defendeu na quinta-feira que existe fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde promova medidas para conter custos com medicamentos, designadamente para doentes oncológicos, doentes com artrite reumatoide ou com VIH, tentando assegurar uma "justa e equilibrada distribuição dos recursos".
Fernando Sollari Alegro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto e porta-voz do G14, um grupo de hospitais do Norte que compra medicamento em bloco, garantiu, esta sexta-feira, à Lusa que os doentes destas instituições hospitalares são todos tratados de forma equitativa.
"Nunca escolhemos doentes. Nós escolhemos protocolos e tratamentos e tentamos obter negociação de volume que nos permita ter redução de preços. Nós nunca fizemos escolhas de doentes", asseverou Fernando Sollari Alegro.
Sollari Alegro acrescenta que se tiverem 20 doentes para tratar, tratam os 20 doentes, mas se aparecerem 100 doentes também são tratados.
O modelo que está a ser seguido pelos hospitais do norte e o modelo proposto pelo Conselho de Ética para as Ciências da Vida são diferentes, explicou à Lusa.
Numa entrevista ao jornal "i", publicada esta sexta-feira com o título "Hospitais do Norte já racionam medicamentos como defende o Conselho de Ética", Sollari Alegro afirmou, no entanto, e segundo aquele diário, que o "racionamento defendido no polémico parecer já está em prática em 14 hospitais do norte e permitiu uma poupança de 60%".
Sollari adiantou à Lusa, por seu turno, que o G14 não faz "racionamento", mas sim "racionalização", ou seja, o grupo de hospitais cria "protocolos de tratamento que permitam que o conjunto dos hospitais (...), façam aquisições em conjunto e com isso reduzam os preços".
Fernando Sollari Alegro disse ainda que a discussão sobre os medicamentos é "importantíssima", mas censura o Conselho de Ética para as Ciências da Vida por estar a trazer o tema a público numa altura em que se estão a discutir "cortes" e "dificuldades no Serviço Nacional de Saúde".
"Acho muito mau estarmos a discutir isso num momento em que se está a discutir o Orçamento [do Estado para 2013], em que as pessoas estão inflamadas e desgostosas com as dificuldades que estão a haver e que são, em parte, impostas por fora".
Os gastos com medicamentos do G14, em 2011, rondaram os "300 milhões de euros". Para este ano, as previsões do grupo apontam para uma fatura anual "bastante abaixo" daquele valor.
O grupo de hospitais do Norte que desde o início do ano compra medicamentos em bloco com base em listas elaboradas pelas administrações e comissões de farmácia e terapêutica, prevê poupar cerca de 26 milhões de euros em 2012.