José F. G. Mendes, in Correio do Minho
Esta semana fomos confrontados com duas notícias que me causam uma inquietude para além daquela a que já nos habituámos ao longo do último par de anos. Refiro-me ao brutal crescimento do número de desempregados que decidiram emigrar e, também, ao enorme aumento do desemprego entre licenciados no Baixo Minho.
Comecemos pela emigração. Soube-se agora que o número de desempregados que, entre Janeiro e Setembro, pediu a anulação da inscrição nos centros de emprego com o objetivo declarado de emigrar disparou 45% face a igual período de 2011.
Os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional revelam que, nestes nove meses de 2012, optaram pela emigração 24.687 desempregados, quando em igual período de 2011 esse número foi de 16.977 e no ano de 2008 de apenas 10.962.
Num país em que o desemprego se situa muito perto dos 16% e onde o empobrecimento dos indivíduos e das famílias é bem visível e tende a piorar, o apelo do estrangeiro faz-se sentir. A Europa é ainda um espaço de oportunidades de emprego melhor remunerado, apesar de um crescimento económico pouco estusiasmante. Mas começa também a ser uma opção a partida para outras latitudes, países com economias a crescer a ritmos acelerados, como o Brasil ou a Angola.
A segunda notícia preocupante dá nota de um aumento de 54% nos licenciados inscritos nos centros de emprego do Baixo Minho, no último ano. Dos 62 mil desempregados do distrito de Braga, 11% são pessoas com formação superior. Estes cerca de 7 mil licenciados, produto do investimento de 3, 4 ou 5 an os das famílias e do Estado, estão agora remetidos à condição de desempregado, quer porque a economia destrói emprego antes existente e não gera novos, quer porque são detentores de diplomas cujo potencial de empregabilidade é muito baixo.
Se a estes licenciados acrescentarmos os recém-licenciados, grande parte dos quais não está inscrita nos centros de emprego, percebemos que existe, nesta região como no restante país, um exército de gente supostamente qualificada que rapidamente poderão aderir ao clube dos emigrantes.
Este desbaste no capital social do país, que vai certamente intensificar-se face aos astronómicos 35% de desemprego jovem, é uma das piores notícias dos últimos tempos. Seria importante a comunicação social chamar a atenção para a questão de forma mais quantitativa, apresentando nomeadamente o cálculo do investimento desperdiçado na formação destes jovens.
Emigrar para perseguir um sonho, uma paixão, viver uma experiência profissional ou académica é algo muito positivo. Quando, mais tarde, se regressa à pátria e se incorpora esse conhecimento na nossa economia, na nossa sociedade, então o mérito é ainda maior.
Acontece que o que estamos a viver hoje é algo bem diferente. É justamente por essa razão que vale a pena reflectir sobre a oportuna afirmação do Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, de que o povo português não está a ter 'o direito de não emigrar’, proferida à margem do Encontro de Promotores Socioculturais das Comunidades Portuguesas, que se iniciou na última sexta feira em Fátima.