in iOnline
A partir de hoje há mais um jornal, “amigo, útil, informativo e recreativo”. A novidade? É dirigido (e feito) pela população sénior
“Lê isto, que isto interessa.” Do avô para o neto, de uma cabeça sábia até outra, mais oca de conhecimento. De geração para geração, quer-se “envolver a família” com um jornal no meio – o “Jornal Sénior”. É isso mesmo, de palavras e textos apontados aos olhos de leitores mais velhos. Mas não só, diz Mário Zambujal. O objectivo é “ser útil, informativo e, de alguma forma, recreativo, amigo das pessoas”, traçou, com entusiasmo e alegria na voz, o director que, aos 77 anos, orienta o jornal que hoje chega às bancas com cerca de 20 mil exemplares.
Cada um à venda por 95 cêntimos, preço de capa apanhado numa das modas recentes do país: também ele sofreu um corte. Este bem-vindo, diga-se. O plano inicial era vender o “Jornal Sénior” – de periodicidade quinzenal – a troco de um euro a menos na carteira, mas “de um dia para o outro o preço baixou”, brincou o director. Hoje, dia de primeira edição, com 48 páginas, Mário Zambujal ainda está convencido que “acharam erradamente que a [sua] participação era importante”. Uma garantia mascarada de sinal de confiança no projecto. “Não seria por mim que este jornal não se faria”, assegurou.
Foi com a mesma certeza que aceitou tomar as rédeas de “um plano interessante e muito bem delineado”, sem intenção de “concorrer, de alguma maneira, com outra publicação”. O antigo jornalista da RTP, do “Record”, de “A Bola”, e director dos semanários “Se7e” e “Tal & Qual”, orientará agora uma redacção “com cerca de 20 jornalistas”, todos a trabalhar por uma publicação “que ponha as pessoas a dizer: este jornal é meu amigo e diz coisas que me interessam e divertem”.
Amigo não empata amigo, mas pode bem arrastá-lo. Aconteceu com Alice Vieira, ao responder com um “é para já” ao convite de Mário Zambujal para integrar a lista de colaboradores do jornal. “Se ele ia alinhar numa coisa, eu queria lá estar”, confessou a escritora, antes de esclarecer que o “Jornal Sénior” “não é só para velhos, mas para quem quer ler e está numa idade mais madura e activa”.
Falar em idade até vem a calhar. E bastam três linhas para explicar porquê – hoje é comum dizer-se que o tempo de vida dos jornais em papel, à antiga, está a chegar ao fim. Ou, se preferir, uma época “em que há mais jornais a fechar do que a abrir”, resumiu Alice Vieira. A escritora não se lamentou, antes congratulou--se por o jornal surgir “numa altura destas”. Entusiasmo de sobra, até capaz de alimentar “um sonho enorme de ver o jornal passar a semanário”.
A queda das publicações em papel coincide, e sofre, com o paralelo crescimento das versões digitais. “A população mais idosa não tem, nem nunca terá, apetência para as novas tecnologias”, lembrou Rui Tovar, jornalista e outro dos colaboradores do “Jornal Sénior”, que, sendo quinzenal, “implicará uma maior reflexão” e “vai ao encontro do ritmo de vida de uma população com mais tempo para ler”. O truque é simples – a mira está focada num público-alvo. “A informação de valor é cada vez mais de nicho, o que faz com que o ‘Sénior’ tenha um lugar no mercado nacional”, defendeu José Vegar, jornalista, investigador e mais um na lista de colaboradores, em que também estão Leonor Xavier, Pedro de Freitas, Humberto Lopes e Luís Filipe Pereira. Na redacção, Maria da Assunção Oliveira e Alexandra Abreu são as editoras e, no papel, estão hoje 48 páginas de texto espalhado por temas como o papel dos seniores na família, a lei do arrendamento ou os escalões de IRS.