Paulo Lourenço, in Jornal de Notícias
Sem transportes, nem dinheiro para táxis, Ofélia empurra a cadeira de rodas da filha deficiente, estrada fora, para a levar ao médico. Mas o drama social começa na falta de condições da casa onde vivem.
Desde setembro, que Ofélia Marques, 52 anos, é vista a empurrar a cadeira de rodas da filha pela berma da Estrada Nacional 3 (EN3), entre Vaqueiros, a aldeia onde habitam, e Pernes (concelho de Santarém), onde fica o Centro de Saúde onde ambas são assistidas. São cinco quilómetros em cada sentido a enfrentar o perigo e a despender um esforço desumano. "Qualquer dia rebento", desabafa ao JN, sem esconder a amargura pela situação que se arrasta desde setembro, quando o médico deixou de dar consultas na extensão da sua aldeia.
A Junta de Freguesia lembra que a população da aldeia é maioritariamente idosa e reclama o regresso das consultas à aldeia uma vez por semana e diz que disponibilizou instalações, equipamento informático e uma administrativa, mas tal não voltou a acontecer. Uma situação que a responsável pelos Centros de Saúde de Santarém justifica pela fraca utilização daquele posto de saúde.
Sem médico à porta, a vida de Ofélia e da filha Patrícia, atualmente com 31 anos, complicou-se ainda mais. Divorciada desde que a bebé tinha 3 meses, criou sozinha, e sem qualquer apoio do ex--marido, a menina. Nunca teve oportunidade de trabalhar. Hoje, subsiste apenas com os 400 euros de pensão que recebe pela invalidez da filha.
A casa onde vivem não tem as mínimas condições de habitabilidade, muito menos para acolher uma deficiente profunda, pelo que a solução proposta pelo ministro Paulo Macedo de consultas domiciliárias (ver caixa) levanta algumas reservas.
"A Ofélia está disponível para ir viver com a filha para uma instituição que as acolha. Estamos a tentar encontrar uma, mas não é fácil, resume Carlos Trigo, presidente da Junta de Freguesia.