Por Kátia Catulo, in iOnline
Quase 2 milhões de portugueses estão à beira da pobreza e um em cada dez já atravessou essa fronteira. Jovens, famílias com crianças e desempregados estão entre os mais afectados
Quase 2 milhões de portugueses estão à beira da pobreza. O risco afecta 18,7% da população portuguesa e atingiria quase 50% se não fossem as pensões e as transferências sociais. Os dados provisórios do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a taxa é a mais alta desde 2005, ano em que 19% dos portugueses viviam sob a ameaça iminente de pobreza, definida como um rendimento mensal inferior a 409 euros. Adolescentes com menos de 18 anos, casais com crianças a cargo e ainda desempregados são as populações mais vulneráveis, tendo em conta os rendimentos de 2012 analisados e divulgados ontem pelo INE.
Um em cada dez portugueses, no entanto, já atravessou essa fronteira e encontrava-se em privação material grave, não conseguindo por isso pagar a renda, comer uma refeição de carne e peixe ou aquecer a casa. O inquérito feito em 2013 com base nos rendimentos de 2012 mostra que a população com esse tipo de carências subiu de 8,6% para 10,9%. A privação é grave quando uma família não tem acesso a pelo menos quatro de uma lista de nove itens relacionados com necessidades económicas e bens duráveis e que inclui pagamento de rendas, empréstimos, despesas correntes da casa, posse de máquina de lavar roupa ou televisor.
Por grupos etários, o risco de pobreza está sobretudo concentrado nos jovens com menos 18 anos. São 24,4% dos adolescentes que estão ameaçados (mais 2,6 pontos percentuais que em 2011). Tendo em conta a situação laboral, o perigo é maior entre os desempregados, com a taxa a subir 1,9 pontos percentuais, para 40,2%. E quem está empregado também viu esse perigo crescer em 2012 - mais 0,6 pontos, para 10,5%). Em contrapartida, o risco de pobreza voltou a cair de forma drástica entre os reformados (menos 3,3 pontos percentuais, para 12,8% em 2012).
Famílias Ao analisar o risco de pobreza considerando a composição do agregado familiar, é possível concluir que a ameaça é mais preocupante junto das famílias com crianças dependentes, que registaram uma subida de 1,7 pontos percentuais, para 22,2%. A taxa atinge 40,4% entre famílias com três ou mais crianças e 33,6% no caso das famílias monoparentais. Por outro lado, o risco de pobreza entre as famílias sem crianças dependentes diminuiu de 15,2% para 15%, acontecendo o mesmo com os agregados constituídos por três ou mais adultos mas sem crianças, que apresentam a taxa de pobreza mais baixa, 12%.
Sem as transferências sociais (pensões, subsídio de desemprego ou rendimento social de inserção), a ameaça de pobreza seria muito maior, adverte o relatório do INE. Tendo em conta apenas os rendimentos do trabalho, de capital e as transferências privadas, 46,9% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza em 2012 (45,4% em 2011). Esse perigo cai para 18,7% após as transferências sociais.
Desigualdades O fosso entre os mais ricos e os mais pobres também aumentou em 2012. A distância entre o rendimento "monetário líquido" equivalente dos 20% da população com maiores recursos e dos 20% com mais baixos recursos subiu para 6 em 2012. Significa isto que os 20% dos portugueses mais ricos têm seis vezes mais que os 20% mais pobres.
Apertando ainda mais a escala, é possível concluir que o fosso de rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres cresce ainda mais, passando de 10% em 2011 para 10,7% em 2012. Ou seja, os 10% mais ricos em Portugal têm rendimentos quase 11 vezes superiores aos 10% mais pobres. Cruzando todos estes dados, o INE conclui que em 2012 se "manteve uma forte desigualdade na distribuição dos rendimentos", tendo a assimetria na distribuição entre os grupos da população com maiores e menores recursos "mantido a tendência de crescimento verificada nos últimos anos".