Direcção Editorial, in Público on-line
É o resultado de uma economia que vem de mais de uma década de recessão ou de crescimento anémico, que continua a divergir dos padrões de vida dos nossos parceiros europeus e que nos últimos três anos foi submetida a uma dose inédita de austeridade. Se, por um lado, a austeridade permite equilibrar as contas públicas, os números publicados ontem pelo INE mostram a outra realidade, para além das folhas da contabilidade e do Excel. Os números mostram que a taxa de risco de pobreza em Portugal aumentou para 18,7% em 2012, o valor mais alto desde 2005. São quase dois milhões a viver com 400 ou menos euros por mês. E um inquérito paralelo do INE mostra ainda que no ano passado 25,5% dos residentes viviam em privação material, ou seja, não tinham rendimentos para satisfazer algumas necessidades como, por exemplo, comprar roupa nova.
Esta realidade de rendimentos cada vez mais baixos cruza-se com uma outra, a da forma como esses rendimentos são distribuídos. E a conclusão dos números não é animadora. Por um lado mostram um maior fosso entre ricos e pobres, ou seja, as duas classes de rendimento menos dependentes de salários e pensões. E este diferencial aumentou muito à custa dos que ficaram desempregados e dos cortes registados em prestações como o RSI ou o Complemento de Solidariedade para Idosos. A segunda conclusão é que a classe média, que em termos absolutos pagou grande parte da austeridade, apresenta rendimentos mais uniformes, mas o alisamento dos salários foi feito por baixo.
Tal como se fala em desemprego estrutural, a grande incógnita, depois de anos de austeridade, é saber qual é o nosso nível de pobreza estrutural, ou seja, aquela que não vai desaparecer mesmo quando a economia der sinais de viragem.