Vítor Junqueira, in Buracos na Estrada
Foram hoje publicados pelo INE os principais resultados da última vaga do Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR 2013), e que constituem a informação oficial para a análise do fenómeno da pobreza e da distribuição de rendimentos em Portugal. Os resultados estão disponíveis no portal do INE.
O primeiro indicador a destacar é, obviamente, o da taxa de pobreza, da qual temos falado aqui ao longo das últimas semanas. O risco de pobreza relativa em 2012 foi de 18,7%, quase um ponto percentual acima do valor do ano anterior. Mas talvez ainda mais importante que este indicador é o da pobreza ancorada no tempo, como vimos aqui, que atinge em 2012 os 24,7%, evidenciando o crescimento significativo dos últimos anos, conforme mostra o gráfico:
Também a taxa de privação material -- que corresponde à proporção da população em que se verificaram pelo menos três de nove dificuldades (ver nota metodológica no destaque do INE) -- registou um aumento significativo, tendo ultrapassado a impensável fasquia dos 25%, o que atesta bem as terríveis e crescentes privações pelas quais cada vez uma maior parte da sociedade portuguesa tem vindo a atravessar nos últimos anos:
No campo das desigualdades, apesar da manutenção do coeficiente de Gini, o índice S80/S20, que corresponde, grosso modo, ao quociente do rendimento entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, continua a crescer, depois dos ganhos conseguidos até 2009. Em 2012, os 20% mais ricos ganhavam seis vezes mais que os 20% mais pobres:
Finalmente (embora haja muito mais para analisar no destaque do INE), cabe aqui uma referência aos objetivos da estratégia EUROPA 2020, que cada vez estão mais longe de serem cumpridos. A este propósito, Portugal comprometeu-se, em linha com os outros Estados-membros da UE, a reduzir fortemente o número de pessoas em pobreza e/ou em exclusão social, aqui medido através da verificação de uma ou mais de três situações: 1) encontrar-se em risco de pobreza; 2) encontrar-se em privação material severa; e 3) pertencer a um agregado com intensidade laboral per capita muito reduzida. Estes três indicadores e o subsequente indicador compósito final, que subiu em 2013 para 27,4%, surgem neste último gráfico:
Uma nota metodológica: as referências temporais são o ano anterior do inquérito para tudo o que esteja diretamente relacionado com rendimentos (portanto, a taxa de pobreza resultante do ICOR 2013 é relativa a 2012) e o próprio ano para os indicadores de privação. Estes e outros resultados estão a partir de hoje disponíveis no site do INE e devem ser considerados como provisórios, refletindo uma antecipação do conjunto global de indicadores a divulgar no final do ano em articulação com o Eurostat.