in Jornal de Notícias
A descida das taxas de juro decidida, esta quinta-feira, pelo Banco Central Europeu traz boas notícias para quem tem créditos à habitação, mas é negativa para quem depósitos bancários, afirmou um economista do Banco Carregosa.
O gestor de ativos do Banco Carregosa, Rui Bárbara, destacou que a redução da taxa diretora do BCE para 0,75%, o valor mais baixo de sempre, é positivo para quem tem empréstimos, mas menos bom para os aforradores.
"Se, por um lado, vão baixar as taxas de crédito à habitação que já tinham sido contratadas, o que é positivo para quem tem empréstimos, por outro lado, não podemos descurar o facto de existirem muitos aforradores, que também dependem dos juros dos depósitos a prazo, que, no fundo, são as suas poupanças, para viverem. Essa baixa de taxa afeta negativamente essas pessoas que terão menos rendimento dos seus aforros", salientou o analista.
Ainda assim o balanço global é positivo, já que se está "a baixar o custo do dinheiro como um todo" para a economia da zona euro, que está em recessão.
No entanto, "para os países do Sul da Europa e, nomeadamente Portugal, as condições de acesso a novo crédito por parte dos particulares ou das empresas continua muito difícil, pela falta de liquidez que existe no mercado bancário português", reconhece Rui Bárbara.
Daí que, acrescentou, as empresas portuguesas estejam cada vez mais empenhadas nas emissões obrigacionistas diretas aos pequenos aforradores.
"As empresas, apesar de sólidas, estão com dificuldades em recorrer à banca e pagam taxas de juro que, não sendo exorbitantes, são atrativas para o pequeno investidor que vê as suas poupanças nos bancos terem baixas remunerações porque as taxas estão em queda", justificou.
Para o economista, a baixa da taxa de juro do BCE "não chega" para resolver o problema da falta de liquidez para as famílias e para as empresas, porque o problema da crise da dívida soberana dos países do Sul da Europa tem reflexos no sistema bancário.
"São precisas mais medidas para desbloquear a questão da liquidez", declarou, considerando necessária a criação de "uma entidade central europeia responsável pela supervisão e com capacidade de intervenção em toda a banca da zona euro, para aliviar a ligação negativa entre os problemas da divida publica dos países do Sul e o setor bancário desses países".