2.11.12

Já tiveram quase tudo, mas voltaram à casa dos pais em busca de ajuda

in RR

Em comum, têm o que nunca quiserem ter: regressaram a casa dos pais, porque a crise mexeu-lhes demasiado na vida. Pedro Duarte e José Silva contam a sua história à Renascença e há uma outra perspectiva que os une - a da emigração.

Numa altura em que o Parlamento debate o mais austero Orçamento da história da democracia, os portugueses dão sinais de estar em ruptura económica: com a austeridade imposta, sucedem-se os casos de pessoas que regressam a casa dos pais. Foi o que sucedeu a José Silva, nome fictício, que já teve tudo: um bom ordenado, um trabalho de que gostava (operador de câmara) e que lhe permitiu viajar pelo mundo inteiro. Hoje, sobrevive à custa da família e dos amigos.

"É triste. Eu, que saí de casa aos 17 anos, que toda a vida vivi à minha conta, nunca pedi um tostão aos meus pais, de há quatro ou cinco anos para cá, se não fossem eles, não sei o que seria de mim", conta à Renascença.

São os pais que ajudam a pagar as contas e é a casa dos amigos que, muitas vezes, vai jantar. "Basicamente, deixei de fazer duas refeições por dia. Se almoço, basicamente quase não janto. Emagreci. Estou muito mais magro", constata este operador de câmara, a quem a vida trocou as voltas por causa de um acidente de viação que o obrigou a estar sem trabalhar durante alguns anos.

Quando recuperou do acidente, arranjar emprego tornou-se quase impossível. E a realidade é difícil de suportar. "Os anos passam e um jovem de 45 anos em Portugal é um velho. Um velho que não serve para nada”, diz José Silva, que está medicado para manter a saúde mental. "Pelo menos, faz com que não passe a vida a chorar, com maus pensamentos", afirma.

Para quebrar o ciclo vicioso em que está metido, qualquer saída parece boa. "Sou daquelas pessoas que sempre disse que nunca sairia daqui, mas de há um ano e tal para cá só quero sair daqui."

Cansado de biscates e de respostas negativas, José Silva está inscrito numa série de empresas que procuram mão-de-obra para trabalhar no estrangeiro.

Tal como José Silva, Pedro Duarte, 32 anos, viu-se obrigado a voltar para casa dos pais. É professor de música e há cada vez menos aulas para dar. "É um bocado difícil ter de voltar a pedir dinheiro aos pais, depois de ter perdido tanto tempo a estudar, a tirar a licenciatura e voltar à estaca zero. Uma pessoa tem projectos que ficam a meio do caminho", afirma à Renascença.

Os pais sempre estiveram dispostos a ajudar. Graças à família, não lhe falta pão e casa. Mas ficou sem independência. Reconquistá-la é agora o maior objectivo. E emigrar parece, cada vez mais, ser a solução.