Por Romana Borja-Santos, in Público on-line
O desconhecimento e os preconceitos em Portugal em relação aos ciganos portugueses continuam a ser uma constante e representam mesmo uma “ciganofobia generalizada”. Esta é uma das principais ideias transmitidas pelo livro Portugueses ciganos e ciganofobia em Portugal, organizado pelo antropólogo José Gabriel Pereira Bastos, e que será apresentado nesta segunda-feira, em Lisboa.
Esta colectânea de dez investigações etnográficas sobre as mudanças relacionadas com ciganos registados após a revolução de 1974 permite, segundo explicou ao PÚBLICO José Gabriel Pereira Bastos, perceber que as condições de vida dos ciganos em todo o país continuam a ser “incomensuravelmente piores” em todas as variáveis do que as das restantes minorias éticas.
A compilação conta, ainda, com uma análise do também professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa sobre alguns dos sentimentos e expressões associados à expressão “ciganos em Portugal”, quando se introduz esta pesquisa na Internet. José Gabriel Pereira Bastos refere uma “pulsão genocida e homicida” na quase totalidade dos comentários. “É um verdadeiro napalm, é racismo em estado puro”, descreve o investigador, acrescentando que se há casos em que “acordar sem ciganos é descrito como uma fantasia” outras situações há em que o apelo à violência e à exterminação são muito mais evidentes.
Aliás, para o investigador a persistência das discrepâncias é de tal forma gritante que afecta até o poder político. E dá como exemplo uma proposta que fez no recente Congresso da Alternativas, no sentido de aprovar uma discriminação positiva dos ciganos para ser possível recuperar o tempo perdido, e que foi rejeitada de pé pela esmagadora maioria dos presentes.
O livro tem, ainda, como objectivo “contribuir para reduzir o desconhecimento e os preconceitos que ocultam essa distanciação em vias de agravamento e para expor a negação sistemática de quanto esse atraso se deve a uma ciganofobia generalizada, indo do aparelho de Estado e Municipal às polícias e às populações locais que se opõem à integração de famílias ciganas, impedem o seu realojamento social e a sua contratação no mercado de trabalho”, lê-se no texto de apresentação do mesmo.
O trabalho do investigador em relação aos ciganos começou no final da década de 1990, altura em que começou a analisar alguns dos dados disponíveis sobre as condições sociodemográficas desta comunidade e, posteriormente, os resultados escolares dos mesmos. Em ambos os casos, comparativamente com comunidades como a africana ou timorense, a situação dos ciganos era sempre pior em indicadores como saneamento, alimentação, etc., e as taxas de insucesso e abandono escolar eram também muito superiores. José Gabriel Pereira Bastos venceu mais tarde, em 2005, um concurso para um trabalho sobre os ciganos em Sintra.
O livro, editado pela Colibri e CEMME/CRIA e recomendado pela Amnistia Internacional e pelo SOS Racismo, é apresentado nesta segunda-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.