9.5.13

34% das unidades de saúde familiar sentiram falta de material básico em 2012

in Público on-line

Estudo de satisfação aos coordenadores das USF mostra agravamento das condições de trabalho. Em causa estão materiais como luvas, batas ou vacinas.

Um terço das Unidades de Saúde Familiar (USF) terão sentido falta de material considerado básico durante o ano de 2012, como luvas, batas ou vacinas contra o tétano, segundo dados de um inquérito que será divulgado nesta semana.

Todos os anos é feito um estudo de satisfação aos coordenadores das USF e os resultados relativos a 2012 serão apresentados em detalhe no 5.º encontro nacional destes organismos que começa nesta quinta-feira em Lisboa e que se prolonga até sábado.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da comissão científica do encontro, André Biscaia, explicou que uma das tendências é um aumento da insatisfação em relação ao Ministério da Saúde e aos organismos da administração central.

As faltas de material básico de funcionamento são apontadas por um número significativo de coordenadores de USF, com 34% deles a indicarem que em 2012 essas falhas ocorreram mais de 10 vezes. O mesmo estudo mostra que só 13% dos coordenadores afirmaram nunca terem tido falhas de material considerado básico.

Equipamento informático obsoleto

O equipamento informático, que apoia grande parte da actividade clínica e administrativa nas USF, também está a ser motivo de insatisfação, com metade dos coordenadores a não considerar que o equipamento tem o nível de adequação pretendido.

Criadas em 2005, as USF foram fundadas como uma forma alternativa ao habitual centro de saúde, prestando também cuidados primários de saúde, mas com autonomia de funcionamento e sujeitas a regras de financiamento próprias, baseados também em incentivos financeiros a profissionais e à própria organização.

Neste momento, há 86 candidaturas para criação de unidades de saúde familiar (USF) que estão por decidir e que poderiam dar médico de família a mais 150 mil utentes, segundo dados oficiais a que a agência Lusa teve acesso.

Candidaturas paradas

André Biscaia, revelou à Lusa que desde o início do ano apenas entrou em funcionamento uma destas unidades, sendo que outra foi extinta. Segundo os dados oficiais, entre 2006 e 2010 abriam 55 unidades por ano, o que dava uma média de cinco por mês. Mas em 2011-2012 a média caiu para 39 unidades.

“Há aqui qualquer coisa no processo que não está a levar a que as USF que têm candidaturas activas passem à actividade”, declarou o responsável, remetendo respostas para o Ministério da Saúde ou para as autoridades regionais de saúde.

Os organizadores do 5.º encontro nacional das USF continuam a frisar as vantagens destes organismos: “um modelo centrado no cidadão e na micro-eficiência e assente num elevado grau de participação, transparência, discriminação positiva e responsabilização nas decisões”. De tal modo que no encontro uma das questões a debater será o alargamento do modelo das Unidades de Saúde Familiar aplicado a outras áreas sociais nos serviços públicos em Portugal.

“Há muitos estudos que provam vantagens ao nível do acesso, da racionalização da prescrição de medicamentos e de meios complementares, que apontam para menos desperdício e melhor utilização de recursos”, lembrou André Biscaia.

Actualmente existem em funcionamento 357 USF que abrangem cerca de 4,5 milhões de utentes e onde trabalham mais de 6900 profissionais.