Raquel Almeida Correia, in Público on-line
Volume de negócios caiu mais de 14% nos últimos cinco anos, acompanhado por um travão a fundo no investimento e por uma queda dos lucros de 7,1 mil milhões de euros.
Em cinco anos, as empresas nacionais perderam mais de 61 mil milhões de euros de receitas, o equivalente a mais de um terço do produto interno bruto (PIB) português. Antes da crise, facturavam 426,7 mil milhões de euros, mas em 2012 o volume de negócios caiu para 365,5 mil milhões, o que significou uma queda de 14,3%. Este recuo foi acompanhado por um travão a fundo no investimento, que desceu 53,5% e, em termos absolutos, mais de 16 mil milhões de euros. Já os lucros caíram 7,1 mil milhões de euros, o equivalente a 68,1%.
De acordo com dados divulgados sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pelo menos desde 2004 que as vendas das empresas vinham crescendo. Porém, esta tendência inverteu-se logo em 2009, após o eclodir da crise financeira. Apesar de uma subida de 3,9% no ano seguinte, em 2011 e 2012 voltaram a registar-se decréscimos, de 2,9 e de 6,2%, respectivamente. As receitas alcançadas há dois anos, no valor de 365,5 mil milhões de euros, representam o valor mais baixo desde 2005.
Em termos percentuais, a queda nas receitas foi especialmente acentuada nas microempresas, que, entre 2008 e 2012, assistiram a um recuo de 20,5% na facturação, correspondendo a uma perda de 15,8 mil milhões. Mas, em termos absolutos, o maior decréscimo foi protagonizado pelas grandes empresas, superando os 20 mil milhões. Do total de vendas gerado pelas sociedades nacionais em 2012, 48% foram da responsabilidade das grandes empresas, que facturaram 174 mil milhões de euros, seguindo-se as médias, mas com um peso de apenas 18,4%.
Os dados do INE mostram ainda que o sector de actividade que mais receitas gerou em 2012, o do comércio por grosso e a retalho, viu o volume de negócios cair 14,9% face a 2008, o que significou uma perda de quase 21 mil milhões de euros. Isto ao mesmo tempo que o Algarve e a Madeira se destacaram como as regiões em que as empresas tiveram um maior recuo nas vendas (33,8% e 25,7%, respectivamente). No entanto, em termos absolutos, foi em Lisboa que se registou o decréscimo mais acentuado, de 34,6 mil milhões de euros, representando mais de metade da redução global.
Menos 16 mil milhões investidos
A queda nas vendas foi acompanhada por um travão a fundo no investimento, que caiu quase 16 mil milhões de euros em termos globais. Nos últimos cinco anos, as empresas nacionais cortaram a aplicação de dinheiro em bens tangíveis, como linhas de produção, maquinaria ou edifícios, em 53,5%. Tal como aconteceu com as receitas, esta redução começou a partir de 2009, já que até então as sociedades vinham investindo mais a cada ano que passava. A retracção acentuou-se em 2012, com os gastos a atingirem 13,7 mil milhões de euros – o valor mais baixo desde, pelo menos, 2004.
A maior descida foi protagonizada pelas médias empresas, que investiram apenas 2,4 mil milhões, o que significou uma quebra de 60,2%. Mas, em termos absolutos, a diminuição mais expressiva partiu das grandes empresas, que aplicaram menos 5,5 mil milhões de euros, após uma descida de 54,5%. O sector das indústrias transformadoras, que mais dinheiro aplicou em 2012, num total de 2,9 mil milhões de euros, assistiu a um decréscimo de 47,5% em cinco anos.
Lucros caem 68,1%
Ao nível dos lucros, houve também uma queda bastante agressiva nas sociedades não financeiras: menos 68,1%, o que significou uma perda de 7,1 mil milhões de euros. Em 2012, o resultado líquido global foi de 3,3 mil milhões de euros, o que compara com os 10,5 mil milhões de 2008. Pelo meio, em 2010, antes da intervenção da troika (Maio de 2011) e numa altura que se se tentava reanimar a economia com o apoio de dinheiros público, os lucros dispararam 78%, atingindo o valor recorde de 20,1 mil milhões de euros. No ano seguinte, este indicador afundou-se 5,4 mil milhões, ou seja, menos 73%. Olhando apenas 2012, verifica-se, segundo o INE, que 51,1% das empresas deram prejuízos.
O volume de negócios, de resultados líquidos e de investimento entre 2008 e 2012 foi fortemente influenciado por uma redução do número de empresas no país. Os dados do INE mostram o desaparecimento de quase 176 mil negócios neste período, o que correspondeu a uma diminuição de 13,9%. Por serem a larga maioria, as microempresas foram responsáveis pela diminuição mais significativa, tendo desaparecido mais de 165 mil sociedades deste tipo. Mas, em termos percentuais, o maior recuo coube às pequenas empresas, com uma queda de 20,3% que correspondeu à perda de 9405 entidades.