Por Catarina Falcão, in iOnline
Insatisfação estende-se à democracia europeia. Só 36% dos portugueses consideram que pertencer à UE é "uma coisa boa"
Apenas 14% dos portugueses dizem estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a democracia em Portugal e a mesma percentagem repete-se no que diz respeito à satisfação com a democracia nas instituições europeias - números que fazem de Portugal o Estado-membro mais descontente da União Europeia (UE). Esta insatisfação parece ter correspondência directa com o interesse nacional por temas europeus, já que o país ocupa a penúltima posição no interesse sobre o que é discutido em Bruxelas. Causa ou consequência das respostas anteriores: só 36% dos portugueses consideram que pertencer à União Europeia é "uma coisa boa".
No Eurobarómetro divulgado esta semana sobre a percepção das mulheres sobre a União Europeia foi também avaliada a satisfação dos europeus com o funcionamento da democracia, mostrando que Portugal é o país mais insatisfeito com a sua democracia (ver gráfico em baixo) e com a democracia da União Europeia. Em geral os estados-membros avaliados - 27 países, já que a sondagem decorreu antes da entrada da Croácia - estão mais satisfeitos com a democracia individual de cada país (que em média se situa nos 52%) do que com a democracia nas instituições europeias (44%). Mas num e noutro caso estão muito mais satisfeitos que Portugal, que nos dois questionários registou um nível de satisfação de apenas 14%. Nas duas questões, a Grécia ficou no penúltimo lugar. A nível nacional os mais agradados com a sua democracia são a Dinamarca (89%) e a Suécia (87%). No que se refere à democracia na UE, a Bélgica mostra-se o país mais satisfeito (68%).
Também no interesse que os europeus têm sobre os temas discutidos no seio da União Europeia os portugueses estão no fundo da tabela. Colocam-se nos 29%, sendo a média europeia de 43%. O país menos interessado nos temas europeus é a República Checa (25%).
Também a nível do envolvimento dos cidadãos nas instituições europeias, os portugueses não são optimistas, ficando as suas expectativas para um maior envolvimento em 2025 abaixo da média europeia (48%). Neste estudo fica também a saber--se que apenas 36% dos portugueses consideram que pertencer à União Europeia é "uma coisa boa", ficando apenas a Grécia, o Reino Unido, a República Checa e Chipre abaixo dessa percentagem.
Ao mesmo tempo, os portugueses são dos europeus que mais querem que o Parlamento Europeu assuma um papel mais importante do que tem actualmente entre as restantes instituições europeias - Comissão Europeia e Conselho Europeu. 60% dos portugueses afirmaram que essa é a sua preferência, enquanto a média europeia se situa nos 49%.
Sobre os problemas a que as instituições europeias devem dar prioridade, 72% dos cidadãos nacionais (a percentagem mais alta entre todos os países) consideram que a pobreza e a exclusão social devem ser a preocupação número um de Bruxelas - a média europeia situa-se nos 51%. No contexto da crise, Portugal é o terceiro país que aponta como problema mais urgente o combate ao desemprego e a criação de emprego (a liderar a lista está a Espanha e logo a seguir a Dinamarca).
Já no que diz respeito aos valores que a UE deve defender, a maioria dos europeus considera que os direitos humanos são o valor mais importante. A média europeia para esta preferência situa-se nos 54%, mas apenas 45% dos portugueses consideram que este deve ser o valor principal a defender. Entre outros valores enunciados pelos europeus estão a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre estados-membros, a liberdade de expressão, o diálogo entre culturas e religiões e a solidariedade da UE com os países mais pobres do mundo.