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O presidente do Conselho Económico e Social diz que credores não reconhecem erros e insistem na receita.
O antigo ministro do emprego e segurança social critica a troika por estar a vender um filme de sucesso com um falso guião.
“Há aqui um filme que os representantes da ‘troika’ começam a exibir: esse filme é dizer que este programa foi um sucesso. Vão dizê-lo apontando vários exemplos e argumentos”, afirma.
Silva Peneda acrescenta que “o crescimento da economia nos últimos trimestres, a baixa da taxa de juro da dívida, a confiança dos mercados, até a baixa do desemprego e que tudo isto resultou do programa de ajustamento” será a “missa” que vamos ouvir.
“Eu acho que estes argumentos são falsos. Este programa da Troika está muito longe de poder ser apresentado como um programa de sucesso. Mas o programa não foi o sucesso que os senhores da troika vão querer passar nos tempos mais próximos”, defende o presidente do Conselho Económico e Social.
Silva Peneda cita como exemplo das fragilidades de execução do programa, entre outros, o desfasamento entre as metas previstas no programa e os resultados obtidos, no crescimento do PIB, taxa de desemprego ou no controlo do défice público.
O presidente do CES questiona igualmente a desvalorização dos custos de trabalho como forma de alterar o perfil produtivo do país. Silva Peneda acusa ainda a troika de pretende baixar salários com argumentos técnicos de grande pobreza e fragilidade.
“Os custos do trabalho baixaram e de forma significativa. Até por causa do efeito turn over, isto é quando alguém sai do posto de trabalho quem o vai substituir vai ganhar, muitas vezes, metade. Isto aconteceu, mas não aconteceu o fundamental que era a alteração do perfil produtivo do país. Nem podia acontecer num programa de dois anos” defenda Silva Peneda.
“Troika continua a insistir em mais baixas salariais com uma fundamentação técnica muito pobre. A fundamentação técnica que está na base destes argumentos é de uma grande pobreza e de uma grande fragilidade” acusa o presidente do órgão constitucional de consulta do governo e de concertação de políticas económicas e sociais.
“Fico surpreendido como é que uma instituição como o FMI e a própria Comissão Europeia insistem na redução dos custos de mão-de-obra com uma fundamentação muito longe de convencer. Quando, é sabido, os factores de competitividade estão muito para além da mera redução dos custos de trabalho” refere Silva Peneda.
No Conversas Cruzadas, deste domingo, o ex-ministro não poupa ainda a Troika por não reconhecer erros e insistir na receita para o futuro. “Até agora não houve nenhuma palavra da Troika de reconhecimento de erros cometidos. Pelo contrário. O que dizem é: ‘não, isto deu resultado e é este caminho que tem de ser perseguido no futuro’. Ipsis verbis. É esta a forma como a Troika se pronuncia.
A troika diz mais: ‘Se não for perseguido este caminho voltamos a um período dos erros cometidos pelos portugueses. Ora, os parceiros sociais têm uma visão muito diferente da que é apresentada pela Troika” conclui o presidente do Conselho Económico e Social.