in Jornal de Notícias
O Instituto de Apoio à Criança encontrou, durante o ano de 2011, mais de 100 crianças nas ruas de Lisboa e recebeu 49 denúncias que davam conta de desaparecimentos de menores ou casos de crianças que deambulavam pela cidade.
Manuela Eanes, presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC), relatou em declarações à agência Lusa que a carrinha do instituto encontrou em 2011 "mais de 110 crianças em contexto de rua".
O Projeto Rua faz parte da ação do instituto e percorre alguns dos bairros mais problemáticos da cidade, como é o caso dos Anjos, do Intendente e do Cais do Sodré.
O serviço, que intervem junto das crianças que vagueiam e dormem na rua, foi criado para prevenir novos casos de jovens sem-abrigo.
Hoje em dia, o projeto também lida com pedidos de ajuda para encontrar crianças desaparecidas e denúncias de menores que se encontrem sozinhos nas ruas da cidade. Em 2011, foram acompanhadas 49 situações de denúncia. "A maioria dos casos são encaminhados pelo SOS Criança ou então são crianças que fogem das instituições do Ministério da Justiça ou de casas particulares", explicou Manuela Eanes.
A responsável da instituição recorda que há 29 anos, quando o IAC começou a trabalhar nesta área, a situação era bastante mais problemática. "Em 1999, havia cerca de 500 crianças na baixa de Lisboa a dormir nas grelhas do metropolitano, em vãos de escadas, com uma vida muito difícil. Tinham saído de casa, da escola e andavam em bandos", descreve.
Atualmente, o instituto atua em zonas específicas da cidade onde frequentemente surgem situações de risco para menores. Este ano, o IAC está nos bairros da Boavista, Arroja e Bairro Bem-Saúde, onde trabalha diariamente com 357 crianças e 30 famílias.
Para além da atividade na cidade de Lisboa, o instituto faz ainda parte da rede "Construir Juntos", um projeto que reúne cerca de uma centena de instituições que lidam com "crianças em situação de marginalidade e delinquência" explica Manuela.
O IAC foi criado há 29 anos e desde aí tem denunciado mal tratos com crianças e situações de abusos sexuais. Nessa altura, a pedofilía era uma realidade escondida. "Em 1983 começámos a trabalhar com estas crianças mas, em Portugal, a maioria das pessoas só ficou alertada para a problemática do abuso sexual de menores com o caso Casa Pia", recorda Manuela.
O serviço SOS Criança foi só criado em 1988, e, por isso, "quando alguém se apercebia de que uma criança era vítima de violência doméstica ou sexual, ninguém falava, porque as pessoas tinham medo", explica.
Manuela reconhece que a situação atual é melhor, mas que os números continuam a ser preocupantes e que há ainda muito trabalho para fazer.
A presidente do IAC vai reunir nesta sexta-feira com o presidente da Portugal Telecom, entidade que decidiu apoiar o Projeto Rua da instituição.