18.10.12

Já basta de violência!

Francisco Queirós, in Diário as Beiras

“Quantos pobres são necessários para se fazer um rico?”, perguntava Garrett em “As Viagens na minha terra”. O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza acaba de afirmar que teremos, com o Orçamento de Estado de 2013, pelo menos 3 milhões de pobres. Só? Há quem duvide. A limitarem-se brutalmente os apoios sociais, a pobreza, oficialmente reconhecida, atingirá mais e mais portugueses. E uma larga parte da restante população ficará pouco mais que acima do limiar de pobreza. São as políticas desastrosas do governo. Um verdadeiro roubo! Roubo, sim! A palavra se peca é por defeito.

No parlamento, Passos Coelho acusou Jerónimo de Sousa de excessos de linguagem e incitamento à violência. O homem não é deste mundo ou faz-se! Por todo o país cresce, a ritmo de pandemia, um sentimento de indignação profunda. Se Coelho e os seus ministros conhecessem Portugal e os portugueses, se tivessem o hábito de ouvir as pessoas nas ruas, nos cafés, nos transportes públicos, nos mercados, nos locais de trabalho, sentiriam esse clima. Claro que agora não será aconselhável o início dessas saudáveis práticas democráticas. Podem não ser bem recebidos. Nunca um governo de Portugal foi tão malquerido em tão pouco tempo!

Passos Coelho acusa o PCP de incitamento à violência. A que se refere? Aos apelos à resistência, à luta nas empresas, à participação em manifestações e na greve geral? Resistir, sacudir a agressão não só é legítimo e legal, como é um dever imperioso. O que está em causa é muito mais que o sofrimento individual de cada um. Em Portugal, está em causa, a sobrevivência de um povo que a cada dia que passa é submetido a mais privações e atirado para um poço sem fundo.

Então onde está a violência? Sim, existe. Nas noites sem dormir e nas lágrimas da mãe desempregada sem ter de dar de comer aos filhos, que desesperada se pergunta que mal fez para não conseguir cumprir os seus deveres de mãe. Violência sente o reformado sem dinheiro para pagar os medicamentos. Violência sofre quem não consegue pagar a luz, a água, o gás. É violência o que sofre uma mãe que se despede do filho que parte para o estrangeiro à procura de trabalho ou que tem de explicar à filha: “eu e o teu pai lamentamos muito, mas já não conseguimos suportar os teus estudos. Sabes, filha, tens de deixar de estudar!” Isso é violência! A miséria, a fome, o desemprego, o desespero são violentos! Violência que o ministro Gaspar não sentiu. Gaspar confessou que o Estado investiu muito na sua formação e que por isso agora devolve com o seu esmerado labor esse investimento! Na verdade, hoje já pouco teria para agradecer ao Estado, com as suas próprias medidas só há educação bem paga e para ricos. Entretanto, Relvas devolve sabe-se lá o quê! Um e outro, uns e outros, responsáveis por esta política, PSD, CDS de Portas e também o PS, pais do memorando, sujeitam os portugueses a uma agressão de enorme violência!

Quanta violência e quantos mais pobres são necessários até se destruir o meu país?