por Luís Gonçalves, in Sol
Portugal é o único país fundador do euro onde mais de metade da população ainda vive em regiões ‘pobres’, dentro da Europa. Na última década, só os Açores se aproximaram da riqueza média da UE.
Quase 30 anos de União Europeia (UE), milhões de fundos comunitários e uma década dentro do euro, uma das moedas mais poderosas do Mundo, não impediram Portugal de ter hoje dois terços da população a viver em regiões consideradas ‘pobres’ na Europa.
O país vive mais perto do nível dos seus parceiros do Leste da Europa (que aderiram à Europa apenas em 2004) do que dos fundadores da UE e a actual crise irá agravar esta situação no futuro. Portugal já esteve na cauda da Europa a 12 membros, a 15, a 17 e arrisca-se, agora, a ficar também no fim da UE a 27.
Estas são algumas conclusões do mais recente estudo sobre as regiões europeias publicado pelo Eurostat – o gabinete de estatística da UE.
O retrato de Portugal não é famoso: o país está mais pobre e divergente da Europa em termos de nível de vida. Mas o documento desmonta também a situação de grandes potências como a Alemanha e o Reino Unido: são dois dos estados mais ricos, mas igualmente os que apresentam as maiores assimetrias dentro das suas fronteiras. Por exemplo, um habitante da região mais rica do Reino Unido (centro de Londres) ganha em média 10 vezes mais que um residente da região mais pobre do país (Wirral).
Mas voltando a Portugal, o país tem hoje 65% da sua população a viver em regiões onde o rendimento per capita é inferior a 75% da média da UE com 27 membros. Na Grécia apenas 22% dos seus habitantes vivem em regiões ‘pobres’ e em Espanha 2%. A par de Portugal, estão neste ‘clube’ de países com mais de metade da sua população residente em regiões ‘pobres’ a Polónia, Roménia, Bulgária, Eslováquia, Eslovénia e os países Bálticos.
Portugal não possui também qualquer região ‘rica’, ou seja uma zona com um rendimento per capita 25% superior à média da UE, ao contrário de Espanha (20% da população), Finlândia (50%) ou Luxemburgo (100%).
A região mais rica da Europa é o centro de Londres, onde o rendimento per capita é 4,3 vezes superior à média da UE. Segue-se o Luxemburgo (3,6 vezes), Bruxelas (3,2) e Hamburgo (2,8). No outro extremo está a região de Severozapaden, na Bulgária, onde o rendimento dos seus habitantes é apenas de 25% da média europeia, e 12 vezes menos do que o da região londrina.
Riqueza e desigualdade
Mas os dados do Eurostat mostram também a profunda desigualdade de rendimentos dentro das maiores economias europeias, onde a regra parece ser ‘quanto mais desenvolvidas mais divergentes são as suas regiões’. Reino Unido, Alemanha, França e Holanda são os países com as maiores discrepâncias entre regiões em toda a UE27.
Na Alemanha, por exemplo, existem regiões com um nível de pobreza semelhante às áreas mais desfavorecidas da Grécia e Polónia , apesar de Munique ser das zonas mais ricas de toda a Europa. Porém, os germânicos – que vivem na maior economia europeia – , têm outros dados curiosos. A Alemanha é o único país da Zona Euro onde a região da capital é das mais pobres do país. Berlim e Lisboa são, aliás, as únicas capitais de países onde o rendimento médio dos seus habitantes é inferior à média da Zona Euro. Até as capitais búlgara (Sofia), polaca ( Varsóvia) e húngara (Budapeste) são mais ricas que Berlim ou Lisboa.
Durante quase três décadas, Portugal beneficiou de muitos milhões de euros de fundos comunitárias para reduzir as assimetrias face ao resto dos parceiros europeus. Porém, apenas a Madeira, Açores, Algarve e Lisboa são hoje regiões com um rendimento próximo da média da UE. Aliás, nos últimos dez anos (com a moeda única), Portugal apenas conseguiu que uma região – os Açores – conseguisse sair do clube das regiões pobres.